Canaã, a Terra Prometida

Gn 13

Esta passagem do Gênesis nos conta a história de Abraão (Abrão)¹ e Ló, seu sobrinho, filho de Arã. Retroagindo ao início do capítulo 12, vemos que Deus dissera a Abraão que deixasse seu país, seus parentes e fosse para o país que lhe mostraria; e prometeu que o abençoaria e faria dele um grande povo. Abraão então partiu com sua mulher Sara,levando consigo seus bens e o pessoal que tinha adquirido. Levou também seu sobrinho Ló.

"Abraão era muito rico em rebanhos, em prata e em ouro. (…) Ló tinha igualmente ovelhas e bois, e tendas. A terra nãoera suficiente para sua instalação comum: tinham posses imensas para poder habitar juntos. Houve uma disputa entreos pastores dos rebanhos de Abraão e os de Ló." Para evitar discórdia, resolveram se separar.

Essas passagens bíblicas do Antigo Testamento não se limitam apenas a contar histórias, como esta, que para chegar até nós percorreu um longo tempo: mais ou menos quatro mil anos. Como é possível perpetuar, ser incluída na Sagrada Escritura, uma história que não tivesse um significado importante? Eram lidas nas sinagogas, porque os judeus tiravam delas ensinamentos. Esses dois parentes, que deveriam se amar, ter coisas em comum, tinham seus bens separados.

Para os judeus, é segura e confiável a riqueza em rebanhos, prata e ouro, pois seu valor é intrínseco: o rebanho, que pode ser vendido, a prata e o ouro, que podem comprar. E a tenda uma segurança material, uma habitação que pode ser deslocada. Usavam-na, mas como eram nômades, saíam dali para outro lugar; não tinham um pouso fixo.

A primeira mensagem deste trecho é que a graça de Deus estava com Abraão, que além dos rebanhos tinha prata e ouro.

Rebanho tanto pode ser de ovelhas como de gado. Na verdade, a história está dizendo que Abraão tinha ovelhas, gado, prata e ouro; enquanto Ló tinha ovelhas, gado e tendas, não possuía prata e ouro.

Percebe-se aí uma diferença: os rebanhos de Ló estavam divididos entre ovelhas e gado, enquanto os de Abraão não estavam separados, pois só se fala rebanhos. Sabemos, porém, que ele tinha ovelhas e gado. Aí há uma divisão da irmandade, que deveria ser igual, mas não é. Eles resolvem se separar, e quem fala é Abraão e não Ló.

Abraão diz a Ló: "Que não haja discórdia entre mim e ti, entre meus pastores e os teus, pois somos irmãos! Toda a terra não está diante de ti? Peço-te que te apartes de mim. Se tomares a esquerda, irei para a direita; se tomares a direita, irei para a esquerda".

Abraão, aquele que tem rebanhos, prata e ouro falou para o outro que só tem ovelhas, gado e tendas: É bom que nos apartemos.

Ló tomou a decisão:"escolheu para si toda a Planície do Rio Jordão e foi para o oriente. Assim eles se separaram."

Abraão fixou-se na terra de Canaã. Era uma terra virgem, não tinha nada. Ele foi com a riqueza que Deus lhe deu, confiante e determinado a construir algo onde nada havia. Ficou com a parte mais difícil.

"Ló estabeleceu-se nas cidades da Planície", região em torno do rio Jordão, habitada e toda irrigada, "e armou suas tendas até Sodoma".

Aqui está a diferença de pensamento dos dois: Abraão quis criar algo para Deus, formando uma comunidade onde não tinha nada, além de ter sido "generoso, ao deixar a escolha a seu sobrinho"; enquanto "Ló preferiu a vida fácil e um clima de pecado: será cruelmente punido por isso. E Abraão será recompensado pela renovação da Promessa."

O Senhor disse a Abraão: "Ergue os olhos e olha, do lugar em que estás, para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente. Toda a terra que vês, Eu a darei a ti e à tua posteridade para sempre." Abraão era agraciado pela confiança em Deus e disposição em servi-lo. Foi como Deus lhe dissesse: Abraão, por teres escolhido a pior parte, esta terra é tua e a de Ló não é dele. Eu não fiz nada aqui, mas tu farás.

Deus ainda disse a Abraão: "Tornarei a tua posteridade tão numerosa como a poeira da terra." O interessante é que, no final, Abraão não ficou naquele lugar, enquanto Ló permaneceu no lugar que escolhera, não quis mais crescer diante de Deus, procurou facilidades.

Abraão, pelo contrário, ficou com um lugar inóspito e depois de criar algo no lugar que Deus lhe havia dado, numa extrema humildade,
fez um gesto esplêndido: "Com suas tendas, Abraão foi estabelecer-se no Carvalho de Mambré, que está em Hebron, e lá construiu um altar ao Senhor." Largou tudo, afastou-se e deixou a obra de Deus crescer. Por isso Abraão é grande diante de Deus.

A mensagem deste capítulo é: no nosso convívio, somos todos irmãos, mas nem todos escolhem a melhor parte; nem todos constroem, uns querem apenas usufruir do que já está feito, enquanto outros se dispõem a construir. Deus abençoa aquele que constrói, não aquele que somente busca os caminhos mais fáceis.

Sempre que liam essas histórias nas sinagogas, na verdade, os judeus queriam dar um testemunho de que devemos construir e não
apenas nos apoiar no que já está construído. É uma mensagem bonita, usada na época de Jesus como ensinamento.

 

1 "Deus falou assim a Abrão: 'Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de nações. E não mais te chamarás Abrão, mas teu nome será Abraão, pois Eu te faço pai de uma multidão de nações.'" (Gn 17,4-5) "Segundo a concepção antiga, o nome de um ser não apenas o designa, mas determina a sua natureza. Uma mudança de nome marca, pois, uma mudança de destino. Abraão = pai de multidão." Não se trata somente da descendência carnal, mas de todos aqueles que a mesma fé fará filhos de Abraão, como o mostra Paulo (Rm 4,11.16-17; Gl 3,7)": "Assim ele (Abraão) se tornou pai de todos aqueles que crêem, (…) Por conseguinte, a herança vem pela fé, para que seja gratuita e para que a promessa fique garantida a toda a descendência, não só à descendência segundo a Lei, mas sobretudo à descendência segundo a fé de Abraão, que é o pai de todos nós, conforme está escrito: Eu te constituí pai de muitos povos – vosso pai em face de Deus em quem acreditou,…"; "Sabei, portanto, que os que são pela fé, são filhos de Abraão."

 

Referência: LOPES, Raymundo. Canaã, a Terra Prometida: Gn 13. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 25.

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