Nome por nome, a metamorfose da Pontifícia Academia para a Vida

Catequese

No dia 13 de junho foi divulgada a lista dos novos membros da Pontifícia Academia para a Vida, todos nomeados pelo Papa Francisco. Falta, no entanto, a lista do conselho diretivo, também de nomeação pontifícia, assim como a dos membros “correspondentes”, cuja designação compete ao presidente da Academia, Monsenhor Vincenzo Paglia. Mas o pior já passou.

Sandro Magister.

13 de junho 2017.

[http://magister.blogautore.espresso.repubblica.it/2017/06/13/nome-per-nome-la-metamorfosi-della-pontificia-accademia-per-la-vita-2/].

 

Finalmente, depois de muita espera [1], no dia 13 de junho foi divulgada a lista dos novos membros da Pontifícia Academia para a Vida, todos nomeados pelo Papa Francisco. Falta, no entanto, a lista do conselho diretivo, também de nomeação pontifícia, assim como a dos membros “correspondentes”, cuja designação compete ao presidente da Academia, Monsenhor Vincenzo Paglia. Mas o pior já passou.

Em relação aos 132 membros anteriores por diversas razões da Academia, todos despedidos no dia 31 de dezembro de 2016, os atuais membros são 45 mais 5 “ad honorem”. Os confirmados são 33, os novos 17 e seus nomes, com os respectivos títulos, estão na lista divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé [2].

Os eliminados são vários. Entre eles destacam-se alguns acadêmicos de grande importância, mas que se distinguiram por criticar publicamente os novos paradigmas morais e práticos colocados no auge com o pontificado de Francisco.

Entre eles estão o filósofo alemão Robert Spaeman, amigo de Joseph Ratzinger há muito tempo; o filósofo australiano John Finnis, autor com Germain Grisez de uma “carta aberta” ao Papa Francisco e de forte crítica a “Amoris laetitia” [3]; o inglês Luke Gormally e os austríacos Josef Maria Seifert e Wolfgang Waldstein.

Não foram confirmados nem mesmo ativistas pro-vida de relevo internacional, como a guatemalteca Maria Mercedes Arzú de Wilson e a venezuelana Christine De Marcellus Vollmer, entre as primeiras chamadas por João Paulo II para fazer parte da Academia, agora deixada desguarnecida nesta frente.

Desapareceram também três representantes do Leste Europeu que cresceram na escola de Karol Wojtyla e que permaneceram fiéis a ele, como o polonês Andrzej Szostek, o ucraniano Mieczyslaw Grzegocki e o tcheco Jaroslav Sturma, psicólogo e psicoterapeuta ferozmente contrário à ideologia de gênero.

Assim como se pôs uma cruz sobre Etienne Kaboré, de Burquina Faso, perfeitamente em sintonia com as posições da Igreja africana sobre o matrimônio, a família e a sexualidade, vistas em ação durante os dois últimos sínodos.

Da Europa faltaram as contribuições do francês Bernard Kerdelhue, discípulo e grande admirador do beatificado Jérôme Lejeune, primeiro presidente da Academia, e dos belgas Michael Schooyans e Philippe Schepens, fervoroso defensor da ética médica inspirada em Hipócrates. Entre os acadêmicos latino-americanos não estará mais o chileno Patricio Ventura-Junca, muito próximo de outro ex-presidente da Academia, seu compatriota Juan de Dios Vial Correa.

Dos Estados Unidos não estará mais a contribuição de Thomas William Hilgers, ginecologista muito comprometido com os métodos naturais de regulação de nascimentos. Mais que fiel à “Donum vitae” e à “Humanae vitae”, e firme opositor da contracepção e da fecundação “in vitro”, é provável que por isso tenha sido excluído, em vista de uma revisão das posições da Igreja sobre esses temas, dos quais no Vaticano se vocifera com crescente insistência.

Mas também os confirmados e os nomes novos são indicativos de uma mudança de direção.

Entre os confirmados, os cinco novos membros “ad honorem” representam um tributo obrigatório ao passado nas pessoas dos Cardeais Carlo Caffarra e Elio Sgreccia, da senhora Birthe Lejeune, vice-presidente da fundação que leva o nome de Jérôme Lejeune, seu esposo e primeiro presidente da Academia, em 1994, e dos outros dois ex-presidentes, Juan de Dios Vial Correa, chileno, e Ignacio Carrasco de Paula, espanhol.

Obrigatórias foram também as confirmações do Cardeal Willem Jacobus Eijk e do Arcebispo Sydney Anthony Colin Fisher, ambos “conservadores”.

Mas, com um olhar para os outros nomes, é possível observar que os ex-membros “correspondentes” agora promovidos a membros “ordinários” estão entre os mais dóceis às aberturas do Papa Francisco e ao novo curso manejado por Monsenhor Paglia. Entre estes podem ser citados o Bispo canadense Noël Simard, o Bispo argentino Alberto Germán Bochatey, e o mexicano Rodrigo Guerra López e a católica japonesa Etsuko Akiba.

Ademais, foram confirmados personalidades de peso financeiro, apreciados por seus dotes de insubstituibilidade e de adaptabilidade, como o chefe supremo dos Cavaleiros de Colombo, o americano Carl A. Anderson, há muitos anos generoso mecenas tanto da Academia como do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família, ou o francês Jean-Marie Le Mené, presidente da Fundação Jérôme Lejeune e financiador do seu processo de beatificação.

Entre os 17 novos nomeados, três não são cristãos: o japonês e Prêmio Nobel de Medicina, Shinya Yamanaka, o muçulmano tunisiano Mohamed Haddad e o judeu israelita Avraham Steinberg, diretor da Unidade de Ética da Medicina no Centro Médico Shaare Zedek, em Jerusalém, e diretor do Comitê Editorial da Enciclopédia Talmúdica. Monsenhor Paglia preferiu este último, antes que o outro judeu Riccardo Di Segni, rabino chefe de Roma e também médico e especialista em Bioética, vice-presidente do Comitê Nacional Italiano de Bioética, mas com posições mais conservadoras e às vezes explicitamente críticas ao Papa Francisco.

Outra significativa “new entry” é a de Angelo Vescovi, personagem discutido nos ambientes científicos, mas muito vinculado a Paglia desde quando este era Bispo de Terni, onde o ajudou a criar um centro de estudos sobre as células estaminais [células-tronco] e propiciou logo a sua nomeação como diretor científico da Casa Alívio do Sofrimento de San Giovanni Rotondo, fundada pelo Padre Pio [de Pietrelcina[.

Mas o nome quiçá mais emblemático do novo rumo da Academia é o do teólogo moralista Maurizio Chiodi, docente na Faculdade de Teologia de Milão e da Itália Setentrional. Chiodi há tempos se expressa em termos críticos sobre pontos importantes da “Humanae vitae”, da “Donum vitae” e “Evangelium vitae”. Está também em evidente descontinuidade com a Encíclica “Veritatis splendor” de João Paulo II, enquanto parece em sintonia com as aberturas atuais a um novo “discernimento” sobre questões como a contracepção, a fecundação in vitro, as orientações sexuais, “gênero”, a eutanásia passiva e o suicídio assistido.

Com mais prudência, também outras colunas da Academia que no passado mantiveram posições antitéticas se mostram hoje dispostas a favorecer este giro. É o caso de Francesco D’Agostino, filósofo do Direito e presidente honorário do Comitê Nacional italiano de Bioética; de Adriano Pessina, diretor do Centro de Bioética da Universidade Católica de Milão; de John Haas, presidente do Centro Nacional católico de Bioética dos Estados Unidos e amigo do Cardeal Kevin J. Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida; de Ángel Rodríguez Luño, professor de teologia moral da Pontifícia Universidade da Santa Cruz e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, muito ouvido pelo Cardeal Gerhard L. Müller.

Com uma Pontifícia Academia para a Vida posta deste modo, a oposição que todavia se inspira em Lejeune, Sgreccia, Caffarra, em São João Paulo II, Bento XVI, não terá vida fácil.

______

POST SCRIPTUM. O “Catholic Herald” informou que um dos novos membros da Pontifícia Academia para a Vida, o inglês Nigel Biggar, anglicano, docente em Oxford, é um partidário aberto do aborto até “18 semanas após a concepção” [4].

NOTAS.

[1]. Cf. [http://magister.blogautore.espresso.repubblica.it/2017/06/09/academia-para-la-vida-incluso-antes-de-renacer-ya-camina-torcida/].

[2]. Cf. [ http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2017/06/13/0408/00909.html].

[3]. Cf. [https://www.firstthings.com/web-exclusives/2016/12/an-open-letter-to-pope-francis].

[4]. [http://www.catholicherald.co.uk/news/2017/06/13/philosopher-who-backs-legal-abortion-appointed-to-vatican-pro-life-academy/].

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