Quem Era?

Durante uma caminhada pelas ruas da Vila del Rey, Raymundo se depara com um homem estranho, todo ensanguentado. O homem se queixa de que não tem liberdade de ação sobre Raymundo, que faz parte do plano de Nossa Senhora para anunciar o Cristo mais uma vez.

23 de abril de 2008

Era uma manhã muito bonita. Eu estava na capela, quando resolvi fazer uma caminhada no condomínio onde moro. São ruas estreitas, sinuosas e pavimentadas com um asfalto muito pobre. Tinha andado mais ou menos 100 metros, quando vi um homem caído no chão.

Aproximando, vi que tinha um sério ferimento na cabeça e que estava todo sujo de sangue. Ao me abaixar, vi que estava ainda vivo e parecia ter aproximadamente trinta anos de idade. Estava vestido com uma camisa branca e uma calça preta. Falei com ele que iria pedir ajuda a qualquer vizinho.

– Não faça isso – ele disse. Faça você mesmo a caridade de me ajudar.

Como era um homem forte e com estatura acima da média, eu respondi:

– Mas eu não o aguento; vou pedir ajuda aqui mesmo, na casa ao lado.

Ele então agarrou o meu braço e me pediu para não fazer isso. Neste momento percebi que ele estava gelado.

– Como foi isso? Alguém o atacou?

– Foi você – ele me respondeu.

– Eu?… Nunca o vi. Encontrei você deitado aqui, e estou tentando ajudar. Como pode me acusar de uma barbaridade dessa?…

– Vi você há pouco, onde estava. Estava na capela da minha casa rezando.

– Como me viu?…

– Aquele local foi escolhido por você. Mas antes de tudo, eu morei ali.

– Morou ali?… Quando?…

– Quando tudo começou, me ofereceram guarida. Ali fiquei e influenciava a todos, e todos me adoravam.

– Adoravam?… Como pode ser isso?… Nós adoramos somente a Deus.

– Somente a Deus? Você não conhece as pessoas!…

Como ele não largava o meu braço, tentei tirá-lo, mas via que era difícil, porque ele tinha uma força enorme. Aí eu lhe disse:

– Por favor, largue o meu braço; vou pedir ajuda.

– Não. Se você me prometer que irá me levar para dentro do lugar onde era a minha casa, terei forças para andar.

– Onde era a sua casa?…

– Onde você disse que adorava.

– Na capela?… Como pode ser isso?… Moro aqui há trinta anos e nunca ouvi falar de você. E no terreno onde eu moro, nunca morou ninguém.

Neste momento percebi que, pela idade que o homem apresentava, ou era uma mentira ou ele tinha morado no meu terreno com dois ou quatro anos, aproximadamente.

– Quando foi isso? – perguntei.

– Em 1973, você me colocou para fora.

– Eu?… Você está delirando, está me confundindo com outra pessoa.

Aí aconteceu uma coisa que me deixou grilado. Eu estava com um terço no bolso da camisa, e com a insistência do homem em me segurar pelo braço, o terço acabou caindo e foi parar justamente no braço dele. Ele então me largou com uma rapidez incrível.

– Por que esta chave, se já tem a sua?

– Isto não é chave, é um terço! – exclamei.

– Ela lhe abre portas, para mim é uma chave. Ajude-me a levantar.

Eu tentei fazer o homem levantar. Quando estava de pé, encostado no meu ombro, percebi que não tinha ferimento algum.

Ele ficou firme e me disse:

– Estou pronto para me levar de volta à minha casa.

Deduzi, então, que algo estranho estava acontecendo, porque o homem que eu vira todo ensanguentado minutos antes estava agora de pé diante de mim sem nenhum ferimento.

Sem pensar, lembro-me de ter perguntado:

– Você acredita em Deus?

– Acredito. Ele tem poder.

– O que espera dele?

– Que Ele me dê liberdade de ação.

– Ele não lhe dá isso?

– Sobre você, não.

– Por quê?…

– Porque você faz parte do grande plano de sua Mãe terrena; e Ele faz o que Ela deseja.

– O que Ela deseja?

– Anunciá-lo, mais uma vez.

– Eu não quero mais conversar com você. Vejo que já está bem e pode caminhar sozinho.

Abaixei-me para apanhar o terço, quando senti uma forte pancada na cabeça. E lembro-me que caí quase desmaiado. Naquele estado, sem saber ao certo o que estava acontecendo, me via sendo levado para dentro da capela, por algumas pessoas que me pareceram conhecidas: os “pequeninos especiais” já falecidos. Distingui entre eles a irmã Margarida, que me amparava a cabeça. Eles me puseram no chão da capela e se afastaram devagar.

Em seguida levantei-me. Percebendo que estava sozinho, fui até o portão. Saí pela rua, fui até o local onde estava o homem, e no chão estava apenas o meu terço. Eu o apanhei e fui caminhar, para esfriar a cabeça.

 

Referência: LOPES, Raymundo. Quem Era?. In: LEMBI, Francisco. Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 57-59.

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