Uma entrevista com George Neumayr, o autor de “O Papa político”

Maike Hickson.

OnePeterFive, 06 de maio 2017.

[https://onepeterfive.com/interview-george-neumayr-author-political-pope/].

Tradução. Bruno Braga.

Nota do editor: no dia 02 de maio, foi publicado o livro de George Neumayr, “O Papa político: como o Papa Francisco agrada a esquerda liberal e abandona os conservadores” (The Political Pope: How Pope Francis is Delighting the Liberal Left and abandoning Conservatives). O OnePeterFive foi até o autor, que gentilmente nos concedeu uma entrevista. George Neumayr também deu-nos permissão para publicar o primeiro capítulo do seu livro, que publicamos logo após a entrevista. Nós encorajamos fortemente os nossos leitores a apoiarem o corajoso livro de George Neumayr, comprando-o – ele está no “Amazon” [http://a.co/3wPzBko].

Maike Hickson. O que o inspirou a escrever um livro sobre o Papa Francisco?

George Neumayr. Desde o primeiro momento que eu o vi, sabia que ele iria ser uma bola de demolição modernista, e ele me impressionou desde o início como um prototípico jesuíta “progressista”. Eu sabia que era um sinal extremamente ruim a Igreja nomear o primeiro Papa jesuíta no exato momento em que a Ordem dos Jesuítas estava na sua condição mais corrupta e heterodoxa. Eu sabia que estava para ser um pontificado angustiantemente histórico, e desde o primeiro momento do pontificado de Francisco, comecei a pensar que ele [o seu pontificado] seria um bom tema para um livro. À medida em que se desdobrou, tornou-se mais e mais claro para mim que alguém precisava fazer uma crônica desse pontificado consequentemente caótico.

MH: Você estudou na Universidade Jesuíta de São Francisco (Jesuit University of San Francisco). Qual foi a sua primeira reação ao ver e ouvir o Papa Francisco, o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja?

GN: Por vir de uma Universidade jesuíta, eu estava muito familiarizado com as loucuras e fraudes que povoam a Ordem. Quando eu ouvi o Papa, nos primeiros meses do seu pontificado, empenhado em um falatório de esquerda sem parar, isso me fez lembrar todos os disparates que, enquanto estudante, ouvi de um parecido jesuíta “progressista”. O programa de Francisco estava obviamente posto para promover o liberalismo político, enquanto minimiza a doutrina; foi a fórmula do catolicismo da moda e vazio que eu vi exposto na Universidade Jesuíta de São Francisco.

MH: Que método você utilizou para estar apto a fazer uma caracterização do Papa Francisco como Papa em suas palavras e ações?

GN: Eu recuei e olhei para o tempo dele em Buenos Aires, Argentina, na sua formação na Ordem dos Jesuítas, eu li todos os seus escritos e discursos disponíveis – quando ele era Bispo, antes de tornar-se Papa; eu li todas as biografias existentes sobre ele; falei com padres latino-americanos, conversei com jesuítas, com oficiais do Vaticano, falei com acadêmicos e ativistas católicos e advogados canonistas. Dada a delicadeza do tema, a maior parte das pessoas estava disposta a falar comigo anonimamente. Eu tentei olhar para todas as notícias de destaque que tinham relação com Bergoglio, antes e depois de ele se tornar Papa.

MH: Qual é a principal conclusão da sua pesquisa?

GN: A conclusão inegável é que a Igreja Católica está sofrendo com um Papa ruim e que os Cardeais devem enfrentar essa crise.

MH: No seu livro, como você descreve a visão de mundo política do Papa Francisco? Em quais campos da política ele mostra suas tendências de esquerda?

GN: O Papa Francisco é produto do esquerdismo político e do Modernismo teológico. Sua mente foi formada por todas as heresias e ideologias pós-Iluminismo, de Marx a Freud e Darwin. Ele é a realização da visão do Cardeal Carlo Martini: uma igreja modernista, que se adapta às heresias do Iluminismo. Francisco é um seguidor da escola modernista em quase todas as frentes intelectuais. Ele é um estudante da cultura bíblica modernista, o que pode ser visto na interpretação ridícula que faz de certas passagens do Evangelho: como quando descreveu o milagre da multiplicação dos pães e peixes como uma metáfora, não como um milagre. Em mais de uma ocasião ele disse que não foi um milagre, mas uma lição em partilha: “Isto é um milagre: em vez de uma multiplicação, é uma partilha, inspirada pela fé e pela oração. Todos comeram e houve sobra: é o sinal de Jesus, o Pão de Deus para a humanidade”.

MH: Você pensa que o Papa Francisco, nas suas declarações mais políticas, utiliza de forma equivocada a sua posição de Chefe da Igreja Católica?

GN: Este pontificado é um exemplo flagrante de clericalismo fora de controle. O Papa Francisco está utilizando o púlpito do Papado, não para apresentar os ensinamentos da Igreja, mas para promover sua agenda política pessoal.

MH: Suas declarações políticas estão de acordo com o ensinamento da Igreja?

GN: Como eu documentei no livro, muitas das suas declarações não estão de acordo com o ensinamento da Igreja. O Papa Francisco é o pior professor da Fé na história da Igreja Católica. Não se poderia confiar a ele uma classe de religião escolar primária.

MH: Quando descreve o Papa Francisco como um homem com inclinações de esquerda, você poderia nos dar evidências disso? Quais autores marxistas ele admira ou apoia? Quais figuras de esquerda são admiradas por ele?

GN: Eu falo sobre isso no começo do livro. O seu mentor foi Esther Ballestrino de Careaga, que foi um comunista fervoroso. Francisco reconheceu que teve professores comunistas e que eles o influenciaram. Eu ressalto no meu livro que ele também se encontrou com a viúva de Paulo Freire, o autor da Pedagogia do Oprimido, um clássico da esquerda socialista na América Latina.

MH: Que ações práticas, enquanto Pontífice, mostram que o Papa Francisco apóia ativamente movimentos marxistas ou revolucionários?

GN: Eu documentei no livro todos os teólogos da libertação que o Papa Francisco reabilitou. Leonardo Boff está no topo da lista. Ele é um padre abertamente socialista que deixou o sacerdócio, mas está agora nas boas graças do Vaticano, tanto que foi conselheiro do Papa na Encíclica Laudato si. Ele também reintegrou ao sacerdócio o padre comunista Miguel d’Escoto Brockmann, da Nicarágua, que ainda está em contato com o Presidente Daniel Ortega. Esse padre retomou agora suas polêmicas comunistas.

MH: Como você descreveria o ensinamento moral do Papa Francisco em relação com o seu ensinamento político? Há um paralelo entre o seu liberalismo político e moral?

GN: Ele presta homenagem ao relativismo moral e ao socialismo, que estão no coração da esquerda global. Não é coincidência que as suas frases de assinatura têm sido “Quem sou eu para julgar” e “A desigualdade é a raiz de todos os males”. Ele é querido pela esquerda global porque está avançando muitos dos itens de sua agenda, como o ativismo da mudança climática, a abertura das fronteiras, o fim da prisão perpétua (uma posição ainda tão distante que nem mesmo os democratas americanos a tomaram). Ele é um porta-voz para o controle de armas, para o governo mundial, para a redistribuição de riqueza por planejadores centrais. O Papa serve de mediador para a obstinação inerente ao liberalismo, que toma a forma do relativismo moral e a forma de um socialismo de “sinalização de virtude” (virtue signaling). Ele satisfaz o ego dos liberais oferecendo a eles um pontificado de “sinalização de virtudes” sem qualquer ensinamento de uma virtude real. Em outras palavras, os liberais gostam de parecer bons, mas não ser propriamente bom. E um pontificado que combina liberalismo político com relativismo moral ou doutrinal concorda com as suas políticas auto-indulgentes. Eles também gostam de uma pitada de espiritualidade não-ameaçadora em suas políticas, pitada que um jesuíta diletante da América Latina fornece.

MH: Você também fala no seu livro sobre a Exortação Apostólica do Papa Francisco, Amoris Laetitia. É um documento que está de acordo com o ensinamento católico, tal como sempre foi transmitido pela Igreja?

GN: Amoris Laetitia é um dos documentos mais escandalosos da história da Igreja. O Papa Francisco dá uma piscada de olhos e um aceno com a cabeça para os adúlteros na nota 329 do documento (“Nestas situações, muitos [divorciados e recasados], conhecendo e aceitando a possibilidade de conviver ‘como irmão e irmã’ que a Igreja lhe oferece, assinalam que, se faltam algumas expressões de intimidade, ‘não raro se põe em risco a fidelidade e se compromete o bem da prole'”). No meu livro, eu falo sobre a ambiguidade intencional do documento e do Arcebispo Bruno Forte, que ajudou a escreve o esboço do Sínodo da Família (2014) e reconheceu que o desvio do documento era típico de um jesuíta. Naquela oportunidade, o Papa disse a Forte que, se eles aprovassem explicitamente o adultério, haveria uma forte reação. Por isso, eles tinham que introduzir esse tema de forma mais sutil no documento do Sínodo.

MH: Existem outros campos do ensinamento católico em que o Papa Francisco se afasta da ortodoxia?

GN: O Papa Francisco está subvertendo o ensinamento da Igreja sobre o divórcio e, assim, subvertendo o ensinamento de muitos dos Sacramentos, como o Casamento, a Penitência, a Santa Eucaristia, as Sagradas Ordens. Ele está subvertendo a teologia sacramental da Igreja. No meu livro, eu relato muitas dessas subversões do ensinamento da Igreja, do seu apoio à utilização de contraceptivos por conta do Zika vírus ao seu indiferentismo religioso e antinomianismo, que tornou-se uma marca registrada do seu pontificado. O Papa Francisco frequentemente coloca a lei contra a misericórdia, o que é a essência da heresia antinomiana.

MH: O que você diz sobre a reação dos prelados da Igreja, especialmente dos Cardeais, para algumas das partes problemáticas da Amoris Laetitia?

GN: A resposta foi fraca. O Bispo Athanasius Schneider é uma excepcional exceção, ele tem falado diretamente sobre a heresia em atividade nesse documento.

MH: O que os Cardeais deveriam fazer agora? Existem formas para os Cardeais corrigirem o Papa?

GN: A minha posição é a de que os Cardeais deveriam confrontar diretamente o Papa nesta matéria e deixar claro para ele que a posição heterodoxa à qual está aderindo é absolutamente inaceitável. Então, se ele não responder os dubia, eles devem passar para uma correção formal.

MH: Quais são as razões para o silêncio de tantos prelados da Igreja em face dos ensinamentos heterodoxos vindos de Roma?

GN: Uma das razões é a falta de convicção. Outra, o vergonhoso carreirismo. A terceira razão é que muitos dos Bispos são covardes diante do espírito do tempo, e muitos desses “conservadores” são modernistas em câmera lenta.

MH: Como foi possível um Papa revolucionário ser eleito Chefe da Igreja Católica? Você toca essa questão no seu livro?

GN: Como eu demonstro no livro, o Papa Francisco é o ponto culminante do movimento modernista, que remonta há mais de cem anos. O Modernismo vem acumulando força na Igreja desde o Iluminismo, ele tomou velocidade no século XIX e entrou em excesso no século XX, produzindo o pontificado de Francisco. A Encíclica do Papa Pio X sobre o Modernismo é quase uma descrição cirúrgica do pontificado relativista de Francisco. Os Papas João Paulo II e Bento XVI foram redutores de velocidade naquela estrada, na medida em que perceberam que o “espírito do Vaticano II” estava causando estragos na Igreja. Mas, com Francisco agora ao volante, aqueles redutores de velocidade foram completamente ignorados.

MH: Como você descreveria o Modernismo, e o que há de fundamentalmente errado com ele?

GN: A essência do Modernismo é a absorção do liberalismo moderno no catolicismo.

MH: Então, como a Igreja deve encontrar um caminho de volta para uma forte e vigorosa resposta para qualquer enfraquecimento e destruição do seu ensinamento, tal como nos foi passado pelos Apóstolos?

GN: Todas as reformas podem ser reduzidas a uma: um retorno à ortodoxia e à santidade.

MH: Você é da geração católica mais nova, nascida em 1972. Qual é e foi a sua reação à Igreja Católica tal como foi apresentada para você na Novus Ordo Mass, e também na catequese e em todos os outros aspectos da vida católica? O que deu errado e o que está faltando?

GN: Eu pertenço a uma geração de católicos que pediu pão e recebeu somente pedras.

MH: O que você pretende com o seu livro, e o que você diria que nós, autores e jornalistas católicos, devemos e podemos fazer nesta atual situação de confusão para ajudar os fiéis?

GN: A minha esperança é a de que um livro como este possa contribuir para a restauração da ortodoxia e da santidade na Igreja, e eu penso que é dever dos jornalistas falar a verdade sem medo ou favor.