Um pássaro azul

Raymundo encontra o arcanjo nas matas da Vila del Rey. “Você precisa de luz. O Diabo o ronda furioso, mas pela vontade do Senhor bom Deus e a pedido da doce Senhora, ficaremos alertas até que essas tentações cessem”. Em seguida Raymundo tem uma visão da batalha espiritual que o cerca.

1º de maio de 2005 

Era 1º de maio de 2005. Comecei meu dia passeando pelo córrego, no fundo do quintal da minha casa. A manhã estava bonita. Lembrava que à tarde deveria ir a Conselheiro Lafaiete rezar o Terço na Igreja de São Sebastião. Fazia frio, mas inexplicavelmente, ao colocar os pés no córrego senti que a água estava quase morna, e uma sensação gostosa me invadiu o corpo. Resolvi então caminhar seguindo o leito do córrego.

Passei por grandes samambaias e árvores nativas, flores silvestres, até me deparar com um pequeno pássaro azul, que cantava pulando de galho em galho. Eu estava com uma pequena vara na mão, e o pássaro veio e pousou nela cantando. Assustado, larguei a vara, e o pássaro foi embora. Continuei caminhando, quando escutei uma voz me chamar pelo lado direito, do qual sou surdo e cego.

– Daniel.

Era o “menino”. Andava à minha direita, descalço, desta vez vestindo um pequeno moletom azul.

– Como você chegou aqui? – perguntei.

– Voando – ele respondeu, sorrindo.

– Você era aquele passarinho?…

– Por que não?… Gostou?

– Não. Achei esquisito, me assustou pousando na minha bengala.

– O Senhor bom Deus e a doce Senhora acham que não precisa de bengala para andar, porque eles sempre lhe deram assistência para caminhar.

– Não estou entendendo…

– Quando estive com você pela última vez, alertei-o de que necessitava de luz.

– E agora, ainda continuo necessitando?

– Se fosse o contrário, não estaria aqui ao seu lado.

– Do que está falando?

Neste momento sentei numa pedra e ele em outra, do lado que enxergo.

– Você está vendo as coisas com o seu olho cego! – ele exclamou.

– Deixe de bobagem… como vou ver as coisas com o olho cego?

Ele então deu um pequeno salto e foi para o lado direito. Passou a mão sobre o meu olho cego, e repentinamente comecei a enxergar, mas de maneira deformada. Vi pessoas, algumas conhecidas. Uma delas tirou de dentro de uma caixa um objeto envolto num pano branco, que eu não queria que tirasse, mesmo sem saber o que era. Fiquei indignado com a sua atitude. Essas pessoas estavam com um semblante diferente, ameaçador. Vi pessoas roubando coisas que eu tinha ajuntado. Vi uma imagem de gesso malfeita e sem vida de Jesus e Maria. E perguntei:

– O que é isso?… Por que estou vendo tudo errado?… Por que essa imagem de Jesus e Maria, e não eles vivos? Volte com isso como era antes, prefiro ser cego deste olho do que ver essas coisas!…

– Prefere ser cego?

– Deste olho, como estão as coisas, sim, prefiro!…

 – Você precisa de luz. O Diabo o ronda furioso, mas pela vontade do Senhor bom Deus e a pedido da doce Senhora, ficaremos alertas até que essas tentações cessem.

– Ficaremos?… Não é só você?

– Daniel, Daniel… olhe para o alto.

Olhei para o céu e vi uma multidão de seres com formas humanas cercando outros seres escuros, como um cristal num redemoinho.

– O que é isso?…

– Estamos protegendo você, conforme a vontade do Senhor bom Deus e a pedido da doce Senhora.

Entrei em pânico e comecei a chorar vendo tudo aquilo. O menino então passou a mão na água do córrego, jogou-a no meu rosto e disse:

– A água é o princípio da vida, e o Senhor bom Deus deseja lhe dar vida em abundância. Você foi escolhido, e escolhido está e estará. Não chore, porque a Eternidade o espera, a doce Senhora o espera, nós o esperamos. Veja as coisas pelo prisma do amor de Deus, confie em Jesus. Você não estará livre de problemas, mas é vontade de Deus que você cumpra o estabelecido.

Dizendo isto, olhou para o céu e estendeu as mãozinhas:

– Senhor bom Deus, damos glória ao teu Nome. Protegeremos Daniel, como é da tua vontade.

Eu via tudo aquilo tremendamente assustado, quando percebi o menino desaparecendo na minha frente. Em seguida tudo voltou ao normal.

Fiquei ainda por alguns minutos sentado na pedra. Rezei um Pai-Nosso e voltei para casa visivelmente transtornado.

 

Referência: LOPES, R. Um pássaro azul. In: LEMBI, Francisco. O Terceiro Segredo: A Vinda de Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2005. 152-153.

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