Na Capela Magnificat, Nossa Senhor esclarece dúvidas de Raymundo sobre a atuação na vida política. “Na política ou em qualquer outra função que escolher como oportunidade para levar o meu Nome, tenha a certeza de que isto me agrada, porque o escolhi para lutar no mundo e se mostrar”.
16 de outubro de 2008
Na manhã do dia 8 de outubro, eu tinha tido um encontro com os “meninos”, mas senti no meu coração que necessitava de mais alguma coisa, embora não discernisse o que era.
No dia 14, saindo da Basílica de Lourdes, falei em voz alta:
– Vou fazer uma vigília na Capela Magnificat na próxima sexta-feira, dia 17.
Nesse momento escutei nitidamente a voz da bela Senhora:
– Eu também.
Na noite do dia 15, passei na casa da Terezinha Lembi. Estive com ela e com o Francisco Lembi para concluir a elaboração do projeto sobre o dízimo de sangue para a Hemominas, e externei a eles a minha insatisfação com o que me havia acontecido no dia 8. Necessitava de algo mais para apaziguar o meu espírito.
Por volta das 24 horas entrei na Capela Magnificat decidido a dormir lá e forçar alguma coisa que levasse o meu espírito a respostas que eu mesmo não sabia como se dariam.
Entrei, apaguei as luzes, sentei-me na cadeira ao lado do Sacrário e fiquei quieto, sem falar nada. Procurava não pensar em nada. Isso durou mais ou menos uns quinze minutos, quando vi crescer uma luz perto de mim e brotar do chão, entre as minhas pernas, um galho seco, que cresceu sem vida e sem folhas. Cresceu e parou de crescer na altura dos meus olhos. Eu tentei sair, mas não consegui, devido ao emaranhado de galhos que saía do tronco maior, quando vi entrando pela porta uma serpente enorme. Procurei me levantar, mas não consegui. E a cobra ia se achegando a mim, e eu cada vez mais apavorado. Ela se enroscou em mim e começou a apertar o meu pescoço, quando vi os três meninos no meio da capela, vestindo a mesma roupinha do dia 8 deste mês.
– Diga em que crê! Diga em que crê!
Eu, sem titubear, disse em voz alta:
– Eu creio em Jesus! Eu creio em Jesus!
Quando eu disse isto, o galho seco ficou verde e dele saiu um lírio grande, que engoliu a cobra.
E os meninos disseram:
– Diga agora o que deseja! Diga logo!
– Eu desejo conversar com Ele. Isto é possível?
Uma rajada de vento entrou na capela e abriu o Sacrário.
– Diga mais o que quer agora – exclamaram os meninos.
– Quero sair daqui; quero ficar livre desses galhos.
Os galhos se abriram e fiquei livre, para chegar mais perto do Sacrário aberto. Levantei-me e fui devagarinho para perto do Sacrário. Lá dentro vi uma âmbula que se destampou de repente. E eu, com o susto, afastei-me quase jogando no chão o altar da capela. Foi quando escutei uma voz masculina:
– Disse que crê em mim. Disse o que desejava de mim e disse que queria a liberdade, não é isso?
– Senhor Jesus, eu creio no Senhor, mas desejo lhe falar sobre os meus projetos com liberdade, posso?
– Nunca lhe pedi o contrário; sempre prezei pela sua liberdade. Por que me pede isto agora?
– Porque desejo agradar o Senhor. Mas desejo fazer isto com liberdade.
– Há dois tipos de liberdade: aquela que escraviza na razão e aquela que liberta no espírito. Qual delas prefere?
– A que liberta no espírito, sem sombra de dúvida.
– Essa você já tem.
– Uai, tenho?…
– Tem, e sempre fiquei atento para que nada o impedisse de colocar em prática essa liberdade de espírito.
– Eu não queria entrar na política. Mas se fiz isso foi porque percebi que era o desejo do Céu.
– Nunca o forcei a largar a sua terra; se você fez isso foi devido à sua liberdade de espírito, não foi? Sua mãe e seus irmãos estavam ficando para trás; sua liberdade racional diria para ficar com eles. Por que não ficou?
– Porque eu sabia que, se saísse de Ubá, teria outras oportunidades para vencer.
– Então, se você me ama, escolheu o caminho da política porque sabia que entre a corrupção teria oportunidade de trazer almas a mim. Isto não é verdade?
– Claro que é. Não me interesso pelo poder na Terra.
– No Céu somente tem importância a liberdade de espírito. Seja o menor em espírito aí, para ser mais um escolhido por mim aqui.
– Como? O menor é não desejar nada?
– Não, ao contrário. Liberdade de espírito é almejar cada vez mais as coisas do alto e investir na Terra o seu talento, a sua força de vontade.
– Onde?
– Onde for mais difícil.
– Pode me explicar melhor, Senhor?
– Quando estive entre vocês na carne, procurei estar sempre em contato com aqueles que na maioria das vezes tinham a liberdade racional, mas estavam escravizados por essa visão. Procurei levar-lhes a liberdade de espírito. Aqueles que escolhi ansiavam por uma liberdade racional, esperando que Eu fizesse a vontade deles. Percebi que todos tinham a condição latente da liberdade de espírito, e isto incuti neles. Somente um se perdeu, porque não conseguiu entender as minhas palavras.
– Senhor, a política me assusta…
– Por que o assusta? Você deve ter a liberdade de escolha em seu espírito, mas sempre tendo em vista a vontade do Pai, porque o Pai sabe a sua vontade e sabe até quando ela funciona. Isto Eu fiz, pedi ao Pai que me mostrasse a sua vontade. Não queria morrer numa cruz, mas o Pai desejava que isto acontecesse. Desse episódio há 2000 anos atrás até você, esse desejo do Pai tem dado frutos. Na política ou em qualquer outra função que escolher como oportunidade para levar o meu Nome, tenha a certeza de que isto me agrada, porque o escolhi para lutar no mundo e se mostrar. Não desejo que se esconda num convento ou num monastério, ou mesmo na função de um sacerdote. A minha Igreja necessita urgente de pessoas que estejam aptas a enfrentar a corrupção, a falta de decoro, a falta de ética, a falta de honestidade. Vocês falam sempre em ecumenismo, mas se afastam quando o momento é mostrar aos poderes reinantes os meus ensinamentos. Vocês se apegam a modismos, como trabalhar a fome, a miséria, mas onde está a coragem para se mostrarem aos poderes reinantes, que solapam somas astronômicas que poderiam sanar tanta dor entre os carentes? A América necessita de profetas, e o Brasil, com urgência.
– Mas, Senhor, eu não sou profeta!…
– Quem decide isto sou Eu. E se fiz você chegar até onde chegou, é porque o desejo como intermediário das minhas palavras, e não acorrentado a liberdades racionais que os escravizam e os acorrentam a coisas que não são do meu agrado.
– Senhor, por favor, desejo uma velhice pacata…
– Peça-me, então, que passe a outro o meu desejo.
– Não, não desejo isto. Faça então a sua vontade, porque a minha está confusa.
– Esta conversa apaziguou o seu espírito?
– Senhor, essas conversas sempre me apaziguam.
– Volte para onde estava.
Eu voltei, assentei-me na cadeira e a achei diferente. Estava cheia de pregos e espinhos!
– Senhor, não é esta a cadeira da capela…
– Desejo você assentado em cadeiras diferentes, que o incomodam.
– Está bem, Senhor, já entendi.
– Muito bem que entendeu. Vamos então aos problemas que deverá enfrentar, e são muitos.
– Tudo bem, Senhor, pode fazer de mim o que for necessário.
– Isto Eu farei.
A porta do Sacrário fechou-se. Os meninos me ajudaram a levantar da cadeira incômoda e me levaram até a porta do meu quarto. Depois, sumiram.
Referência: LOPES, Raymundo. Tenha a liberdade de espírito. In: LEMBI, Francisco (Org.). Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 67-70.