Mt 6, 5-18
Neste Evangelho Jesus nos ensina a orar e nos explica como perdoar. Jesus passava noites em oração. Quando queria orar, afastava-se. Ele nos mostrou como falar com Deus, dando-nos o Pai-Nosso e dizendo: "Orai desta maneira".
Antes, Jesus falou sobre a oração dos hipócritas: "…eles gostam de fazer oração em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa." As pessoas que agem desta forma estão enganando a si mesmas e têm a felicidade que criaram para si, perdendo aquela que receberiam de Deus.
Por isso, Jesus diz: "Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai, em segredo, e o teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará." Quando uma pessoa quer realmente conhecer o extraordinário, ela se fecha em seu quarto, que é o seu segredo, e ali fala com o Pai.
Isto não significa que Jesus esteja condenando a prática da oração em grupo. Esta consiste em um ensaio para, depois, entrarmos em contato com o extraordinário. Precisamos de uma experiência externa, para depois mergulharmos no nosso interior. Nesse momento é que fechamos as portas do nosso coração para o mundo, abrindo-o inteiramente para Deus. Assim é que devemos rezar o Pai-Nosso que Jesus nos ensinou; caso contrário, não entraremos na intimidade com Deus.
Às vezes, achamos impossível praticar o que está no Pai-Nosso e criamos uma relação de não consigo: não consigo fazer a vontade de Deus; não consigo perdoar fulano; não consigo me livrar da tentação;… Jesus não nos deu uma receita de não consigo, ao contrário, Ele nos ensina como fechar o nosso coração para o mundo e abri-lo a Deus.
Depois, Ele nos chama a atenção para um ponto importante dessa oração, o perdão, dizendo: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará."
Para entender esse perdão, as pessoas precisam perder a racionalidade da lei. Jesus não está falando daquele perdão superficial, quando alguém lhe faz mal e você diz simplesmente: Tudo bem, eu te perdoo. Este perdão não foi sincero, portanto, não existiu.
Que perdão então é esse, do qual fala a oração? É o que se refere àquela atitude em que leva a pessoa a dobrar os joelhos e o espírito diante de Deus. Quando não se consegue agir desta maneira, cria-se um ranço entre a espiritualidade e as próprias ações.
Têm pessoas que se acham melhores do que as outras. Algumas pensam que são mais espiritualizadas porque rezam muito, conhecem a Bíblia, ajudam nas igrejas. Diante de Deus, se julgam melhores, são cheias de si, colocam-se numa posição de superioridade perante os demais mortais. Estas, dificilmente saberão praticar o verdadeiro perdão.
Precisamos nos acostumar a perdoar as pessoas, aceitando-as como são, e pedir a Deus para que se convertam. Mas isto precisa ser feito com tranquilidade no coração e confiança em Deus, que tudo vê. Se não agimos assim, não conseguimos perdoar e essa relação de perdão fica quebrada. O perdão de Deus se faz na medida do nosso perdão.
Esquecemo-nos de que somos a imagem e semelhança de Deus. Se não percebemos entre nós essa igualdade, essa filiação, dificilmente saberemos perdoar. E algo dentro de nós estará nos questionando, até chegarmos ao entendimento. É como São Francisco de Assis dizia: "Por mais que eu tente, não consigo ser nada". Com essa postura, essa atitude determinada de se anular diante de Deus, ele entendeu o que realmente Jesus nos ensina na oração do Pai-Nosso.
Muitos dizem que essa oração é linda. É, mas é também comprometedora! Jesus ali nos fala que se não perdoarmos, Deus não nos perdoará. Devemos, portanto, aprender a perdoar em espírito. O perdão verdadeiro é aquele que vem de dentro de nós, do nosso coração, sem alarde, mas com sinceridade.
Você precisa se igualar a todos, quer na sua superioridade quer na sua ignorância. Tanto a pessoa que está lá embaixo, porque não conseguiu nada neste mundo, quanto a que muito tem, são a imagem e semelhança de Deus.
Muitas vezes, ao lermos sobre a vida de São Francisco de Assis e de Santa Clara, deparamo-nos com suas fragilidades e pequenez. Mas, transportar-se para a vida deles ninguém se disporia. É muito bonito enquanto se está de fora, enquanto é filme e história, mas a realidade é outra.
O fato de Deus não nos perdoar, porque não fomos capazes de perdoar o próximo, não significa, por si só, que seremos jogados no Inferno. Mas Deus vai nos falar: Olhe, vou lhe mostrar a sua vida, veja o que você fez com a minha imagem e semelhança lá na terra. O que fez com seu irmão? Vilipendiou a minha imagem. Terá então de aprender a conhecer isto aqui, na eternidade: é o temido Purgatório.
Bendito seja Deus se formos colocados no Purgatório, porque de lá iremos para o Céu. Ir para o Inferno é difícil, por não ser esta a vontade de Deus. A misericórdia divina é muito grande, está sempre aberta ao perdão; mas para isto é necessário também que façamos a nossa parte.
Referência: LOPES, Raymundo. Oração e perdão: Mt 6, 5-18. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 121.