Lc 14, 7-14
"Quando alguém te convidar para uma festa de casamento, não te coloques no primeiro lugar,…". Em seguida, Jesus explica: "…pois pode ser que alguém mais digno do que tu tenha sido convidado, e quem convidou a ti e a ele venha a te dizer: 'Cede-lhe o lugar'…". Aqui vemos que Ele fala de duas pessoas, de dois convidados para a festa. Isto é a chave deste Evangelho.
Jesus está dizendo que temos dentro de nós duas pessoas: a racional e a espiritual. Se colocamos o racional diante de Deus, sentamos no primeiro lugar e corremos o risco de chegar alguém com todo o sentido espiritual e termos de ceder a ele o lugar. Isto porque aquele que é espiritualizado, diante de Deus tem preferência. Deus, ao escolher as pessoas, dirá: cede o lugar para este, ele é do espírito, fala das coisas do espírito.
São Paulo entendeu perfeitamente o que Jesus explicou. Por isso disse: "As pessoas que são do espírito entendem do espírito e as que são da matéria entendem da matéria". Portanto, se entendemos as coisas do espírito, sentamos sempre no último lugar, esperando o comando de Deus, o Seu chamado, atentos às coisas do espírito.
Quando Jesus nos fala: "Ao dares um almoço ou jantar não convides os amigos, nem os irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos; para que não te convidem por sua vez, e te retribuam do mesmo modo (e seja esta a tua recompensa). Pelo contrário, quando deres uma festa, chama pobres, aleijados, coxos, cegos…", isto quer dizer que, se estamos na verdade do espírito, não devemos convidar quem nos possa retribuir. É como se Jesus dissesse: Se entenderes o que falo, ao ofereceres uma ceia deves compartilhar o teu alimento com aqueles que não te retribuirão: os coxos, os cegos… Assim praticarás a piedade, viverás o verdadeiro amor. Esta é a ceia da qual Jesus nos fala.
O racional, aquele que senta sempre no primeiro lugar, busca a explicação e o entendimento de tudo pela razão, tem o seu colóquio, a sua intimidade com os homens e não com Deus. Por isso Deus não o conhece.
Portanto, é preciso saber escolher, é preciso saber sentar-se, é necessário procurar entender as coisas do espírito. Aquele que vive no espírito não precisa aparecer diante dos homens, pois seu colóquio é íntimo, é interior, diretamente com Deus. Deus o escuta e sabe tudo que passa no seu coração, o conduz e o salva. Isto é uma ação do espírito que deve ser entendida como aquela oração constante, aquela abnegação, desprendimento, aquelas atitudes santas.
Os santos estão sempre dando banquetes para pobres, aleijados e cegos. Santidade é oferecer aos homens o banquete do espírito e receber de Deus o banquete da salvação.
Maria, Mãe de Deus, foi aquela que deu o maior banquete do mundo, Ela se ofereceu por toda a humanidade, sem esperar que algum de nós a retribuísse.
Referência: LOPES, Raymundo. A Inteligência do Cristo: Lc 14, 7-14. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 169.