Papa Francisco pede que Bispos brasileiros discutam a revogação do celibato sacerdotal

Catequese

Pete Baklinski.

LifeSiteNews, 02 de novembro de 2017.

[https://www.lifesitenews.com/news/brazilian-bishop-hopes-for-married-priests-female-deacons-from-upcoming-syn].

Tradução. Bruno Braga.

O Papa Francisco supostamente pediu que os Bispos brasileiros discutam a revogação da disciplina do celibato sacerdotal para compensar a escassez de padres, noticiou hoje o The Telegraph, citando fontes vaticanas no jornal italiano Il Messaggero [1].

O Papa tomou a decisão de permitir uma discussão e possível votação entre os Bispos a respeito do celibato sacerdotal seguindo um pedido feito pelo Cardeal Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, informou o The Telegraph.

O Cardeal Hummes é um amigo próximo e influente de Francisco. Ele esteve ao lado do Papa no balcão da Basílica de São Pedro, em 2013, quando o Pontífice foi apresentado pela primeira vez [2]. O Papa reconheceu que Hummes o ajudou a escolher o nome “Francisco” [3].

O Cardeal Hummes, ex-chefe da Congregação para o Clero do Vaticano, disse que não poderia saber se Jesus se oporia ao “casamento” gay [4]. Ele também atacou os quatro Cardeais dos dubia por levantarem preocupações sobre a controversa Exortação do Papa, Amoris Laetitia [5].

No ano passado, o teólogo da libertação Leonardo Boff afirmou, após o Papa conversar com o Cardeal Hummes sobre a questão da escassez de sacerdotes, que o Papa Francisco pode mudar para permitir padres casados no Brasil [6].

“Os Bispos brasileiros, especialmente o amigo próximo do Papa, o Cardeal Claudio Hummes, solicitaram expressamente ao Papa que padres casados no Brasil retornem ao seu ministério pastoral”, disse Boff na época.

Boff relatou que o Papa queria seguir em frente com o pedido, como uma experiência “por enquanto restrita ao Brasil”.

O ex-diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, o padre Federico Lombardi, disse, em 2015, que os Bispos brasileiros contam com a atenção do Papa Francisco.

“É verdade que o Papa convidou os Bispos brasileiros, em mais de uma ocasião, a procurar e propor com coragem soluções pastorais que eles acreditem ser adequadas para tratar os principais problemas do seu país”, disse.

Padres casados: uma preparação para o Sínodo de 2019?

A notícia chega semanas após o Papa Francisco anunciar um Sínodo dos Bispos especial para a região Pan-amazônica da América Latina, em outubro de 2019. Suspeita-se que “padres casados” estará no topo da agenda. O Sínodo será realizado em Roma.

É a primeira vez que o Papa Francisco convoca um Sínodo para uma região específica, informou o Crux Now, acrescentando que o Papa João Paulo II convocou tais sínodos somente para sinalizar uma preocupação especial.

O vaticanista Sandro Magister destacou, em 2015, como “padres casados” poderia ser a próxima batalha no Sínodo dos Bispos [7].

O Bispo brasileiro aposentado Erwin Kräutler acrescentou sua voz ao pedir que o Sínodo Pan-amazônico permita a ordenação de homens casados bem como mulheres tornarem-se “diaconisas” permanentes.

O Bispo Kräutler, secretário da Conferência dos Bispos do Brasil [CNBB], contou ao Kathpress que tal mudança por parte da igreja latino-americana era necessária por causa da “horrenda” escassez de sacerdotes.

O semanário alemão Die Zeit noticiou na última semana que o Bispo Kräutler e outros já apresentaram um documento ao Papa Francisco, traçando a sua estratégia para introduzir padres casados e “diaconisas”.

O Bispo nascido na Austrália, descrito por seus críticos como um modernista radical, conduziu a diocese brasileira do Xingu de 1981 a 2015.

O Bispo Kräutler disse que abordar a escassez de padres será um dos componentes-chave do Sínodo, noticiou o La Croix.

Os critérios para a admissão ao sacerdócio, ele disse, devem ser alterados para que homens casados possam se tornar padres ordenados. Ele também afirmou que é urgente ordenar “diaconisas”, uma vez que mulheres já conduzem pequenas comunidades católicas.

Kräutler disse que a convocação do Sínodo por parte do Papa Francisco mostra a sua determinação em fortalecer a colegialidade episcopal.

O Papa Francisco fez grandes esforços para descentralizar a autoridade magisterial na Igreja para que grupos de Bispos tenham o poder de tomar decisões morais e moldar a Liturgia em formas que podem até contradizer outros grupos de Bispos. Críticos temem que tal mudança irá minar a unidade da Igreja na sua fé e no seu ensinamento, uma das quatro marcas da verdadeira Igreja.

Em março, o Papa Francisco disse que estava disposto a considerar os padres casados na Igreja Católica como uma resposta para a falta de padres na Igreja.

“Temos que pensar sobre se o viri probati é uma possibilidade”, disse na época o Papa Francisco em uma entrevista para o jornal alemão Die Zeit [8]. Viri probati significa homens “provados” e “testados”, ou, neste contexto, homens casados que provaram ser virtuosos e fiéis.

“Também temos que determinar quais tarefas eles podem assumir, por exemplo, em comunidades desamparadas”, continuou.

“Há muita conversa sobre o celibato voluntário, especialmente onde falta o clero. Mas o celibato voluntário não é uma solução”, acrescentou.

A lei da Igreja sobre o celibato clerical não é uma doutrina, mas uma disciplina que entrou em vigor no século XII, após o segundo concílio lateranense. A Igreja Católica inclui alguns ritos das igrejas orientais que permitem o clero casado. E certos padres casados de outras confissões cristãs, como o Ordinariato anglicano, podem continuar servindo como padres casados quando se convertem ao catolicismo.

A disciplina do celibato sacerdotal segue o exemplo do próprio Jesus. Os sacerdotes são chamados a agir in persona Christi, que é “na pessoa do Cristo”. A disciplina também segue São Paulo, que ensinou na sua Carta aos Coríntios que o celibato está “relacionado às coisas do Senhor – como ele pode agradar o Senhor”. A disciplina está baseada, em parte, no entendimento de que o homem casado não pode de forma adequada dar-se simultaneamente a ambas, à família e à Igreja.

A lei canônica a respeito do celibato estabelece que “os clérigos têm obrigação de guardar continência perfeita e perpétua pelo Reino dos Céus, e portanto estão obrigados ao celibato, que é um dom peculiar de Deus, graças ao qual os ministros sagrados com o coração indiviso mais facilmente podem aderir a Cristo e mais livremente conseguir dedicar-se ao serviço de Deus e dos homens” [Cân. 277, §1] [9].

As notícias sobre o Sínodo Pan-amazônico chegam 14 meses após o Papa Francisco montar uma comissão com 12 membros, chefiada pelo Arcebispo Luis Ladaria Ferrer, para pesquisar a questão sobre as diaconisas. O Arcebispo foi secretário da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele agora comanda a mesma Congregação, substituindo o Cardeal Müller.

Os críticos veem o impulso para um diaconato feminino como parte de um impulso maior pelo sacerdócio feminino.

A Igreja Católica há muito tempo sustenta que a ordenação de mulheres é uma impossibilidade ontológica, pois Jesus ordenou somente homens [10]. A Igreja ensina que ser homem é essencial para o sacerdócio e na capacidade do padre para agir in persona Christi (“na pessoa do Cristo”).

O Catecismo da Igreja Católica ensina que somente um homem batizado pode validamente receber a ordenação sagrada (CIC. 1577) [11].

Em 1994, o Papa São João Paulo II decretou que o ensinamento da Igreja que exclui as mulheres das ordens sagradas era definitivo.

“Para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc. 22, 32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”, escreveu São João Paulo II na sua Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis [12].

NOTAS.

[1]. Cf. [http://www.telegraph.co.uk/news/2017/11/02/pope-requests-roman-catholic-priests-given-right-marry/].

[2]. Cf. [https://www.youtube.com/watch?v=ZfAbTLlewjs&feature=youtu.be&t=1474].

[3]. Cf. [https://rorate-caeli.blogspot.com/2013/03/popes-greatest-friend-and-most.html].

[4]. Cf. https://www.lifesitenews.com/news/exclusive-popes-friend-cardinal-hummes-clarifies-jesus-gay-marriage-remarks].

[5]. Cf. [https://www.lifesitenews.com/news/brazilian-cardinal-bashes-four-fellow-cardinals-says-they-stand-alone].

[6]. Cf. [https://www.ncronline.org/news/vatican/brazil-may-soon-have-married-priests-says-leonardo-boff].

[7]. Cf. [https://www.lifesitenews.com/news/the-next-synod-battle-married-priests].

[8]. Cf. [http://www.zeit.de/gesellschaft/2017-03/papst-franziskus-zeit-interview].

[9]. Cf. [http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf].

[10]. Cf. [https://www.lifesitenews.com/opinion/the-catholic-church-can-never-ordain-women-priests-so-why-all-the-confusing].

[11]. Cf. [http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap3_1533-1666_po.html].

[12]. Cf. [http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1994/documents/hf_jp-ii_apl_19940522_ordinatio-sacerdotalis.html

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