História das aparições de Nossa Senhora a Catarina Labouré em 1830, pela tradução da entrada “Paris VII: França, Medalha Milagrosa”, contida no “Dicionário de ‘Aparições’ da Virgem Maria”, de autoria de René Laurentin e Patrick Sbalchiero.
I- As aparições de abril – dezembro de 1830
II- Aparição noturna da Virgem
III- A segunda aparição da Virgem
IV- A Medalha Milagrosa
V- Relato mais tardio
VI- Terceira e última aparição (30 de dezembro)
VII- A serviço dos pobres
VIII- A cruz de 1848
IX- Lourdes – 1858
X- A Virgem com o globo
Catarina Labouré (1806-1876) é a oitava dos dez filhos de Pedro Labouré (1767-1844) e Madalena Gontard (1769-1815). No dia 9 de outubro de 1815, sua mãe morre subitamente. Na primeira noite sem a sua mamãe, Catarina escala uma cadeira e se estende para abraçar os pés da Santa Virgem.
Há muitas crianças na casa, e entre elas o pequeno Agostinho, deficiente em razão de um acidente. O pai envia Catarina e Tonine para a casa de sua irmã Margarida, casada com o vinagreiro Antônio Jeanrod, que reside em Saint Rémi, a 9 km de Fain. A menina fica como que órfã de pai e de mãe, e saudosa de sua fazenda natal.
Dois anos depois, em janeiro de 1818, o pai sente a falta de Catarina e manda buscar as duas filhas de volta. A festa é grande, pois Catarina também retorna para fazer a primeira comunhão, no dia 25 de janeiro. Para ela, trata-se de uma feliz e profunda etapa espiritual. Devido às circunstâncias na família, sua irmã mais velha, Maria Luísa, de vinte e três anos, adia a partida para as Filhas da Caridade, em Langres. No entanto, Catarina, na época com doze anos, entra em entendimento com Tonine, de nove, e as duas tomam uma importante decisão: “Vá para o convento! Nós duas assumimos o trabalho.”
Catarina se sente madura para carregar o fardo. Ela será uma pequena e valente fazendeira, responsável por preparar ou transportar o almoço, pelo pombal de 1.121 compartimentos, orgulho da casa, pelo galinheiro e o resto. Por outro lado, ela continua analfabeta. E no entanto, ela deseja seguir o caminho de Maria Luísa. Nesta época, os dezoito anos completados de pouco, ela tem um sonho que julga pleno de sentido: um velho padre celebra a missa; no momento do Dominus vobiscum, ele se volta e olha para ela. Este olhar se fixa em sua memória; ela se lembrará dele por toda a vida. Saindo da igreja, ela vai visitar um doente, como de costume, mas desta vez em sonho. O velho padre a reencontra e lhe diz: “Minha filha, é bom cuidar dos doentes. Você foge de mim agora, mas um dia ficará feliz de me procurar. Deus tem planos para você.”
No fundo, Catarina sabe quem é aquele homem. Isso reforça a sua vocação. Como é preciso saber ler e escrever para entrar nas Filhas da Caridade, ela se adianta: paga 30 francos-ouro (todas as suas economias) a uma pessoa que lhe ensinaria a assinar o nome. Neste ano, com Catarina ainda na idade de dezoito anos, Antonieta Gontard, prima alemã de sua mãe, propõe levá-la a um reputado pensionato que ela mantém em Châtillon, no intuito de instruí-la. Valente, Catarina aceita sem pestanejar.
Indo um dia à casa das Irmãs da Caridade, na Rua da Juiverie, Catarina pára estupefata diante de uma foto na entrada: “Este é o padre do sonho! Ele existe! Quem é ele? – É o nosso pai, São Vicente de Paulo”, as irmãs respondem.
A decisão de Catarina está tomada, mas o que fazer? A admissão ao postulado supõe o consentimento do pai, e Catarina não o possui. Pelo contrário, seu pai manda fazer-lhe, por ocasião do batismo de sua afilhada, um belo vestido de seda violeta que fará parte de seu enxoval; Catarina já está na idade de se casar, e é nisso que ela deveria pensar.
No dia 2 de maio de 1827, Catarina completa vinte e um anos. Ela conhece seus direitos. Catarina revela então a sua resolução. O pai não consente: ele já tinha dado uma filha, Maria Luísa, a Deus. Duas seria demais; ele persiste na recusa.
Na primavera de 1828, o pai de Catarina muda de método. O filho Charles, estabelecido em Paris como os outros, possui um restaurante para operários, administrado pela mulher. Ela acabara de morrer, apenas dois anos após o casamento, no dia 21 de fevereiro. Charles precisa de ajuda; a idéia, então, é de que Catarina vá ajudá-lo, e alguém acabaria se interessando pela jovem funcionária. Felizmente para ela, essa situação não dura muito; o irmão encontra consolo e se casa novamente no dia 3 de fevereiro de 1829. Catarina está liberada. Ela fica ainda mais atraída pelo convento quando Maria Luísa lhe escreve uma carta inflamada sobre a felicidade de servir “os pobres, membros sofridos de Jesus Cristo”. Maria Luísa não tinha dúvida de que esta carta lhe retornaria como um boomerang: o testemunho convenceria Catarina a partir e a retomar sua vocação.
Catarina retorna ao pensionato de Châtillon, cujo ambiente intelectual e mundano lhe é estranho. Porém, irmã Cani a ajuda e defende junto à superiora: “Receba-a, ela é toda candura e piedade; ela não está em seu lugar no meio dessas ‘intelectuais’. Ela é uma boa filha do campo, justo como São Vicente ama.”
Em janeiro de 1830, irmã Cani envia sua opinião favorável à Casa-Mãe. No dia 22 de janeiro chega uma resposta positiva. Catarina prepara seu enxoval. No dia 21 de abril de 1830, ela reencontra Paris. “A formação será dura”, dizem-lhe, mas ela se forma usando toda a paciência, toda a disciplina, toda a disponibilidade, em tudo esquecida de si mesma, pronta para tudo. Nada lhe pesa. Ela entra no seminário.
I – As aparições de abril-dezembro de 1830
Catarina vive na alegria de ter reencontrado seu pai espiritual, São Vicente, cujas relíquias são expostas na capela, sobre o relicário. “[O coração de São Vicente] me aparecia todas as vezes que eu voltava de São Lázaro. Eu tinha a doce consolação de ver […] Ele me apareceu três vezes […], branco cor de carne […]. Depois o vi vermelho […]. E depois o vi vermelho-escuro.”
Para Catarina, essas três cores significam a inocência, o amor e a provação. São Vicente lhe parece aflito, em razão da conjuntura política, e ao mesmo tempo consolado pela certeza de que “essas duas famílias não perecerão” (*os lazaristas e as filhas da caridade). Seu confessor, o Pe Aladel, não gosta do relato: “Não escute essas tentações; a filha da caridade existe para servir os pobres, e não para sonhar.”
Eis uma outra revelação: durante a missa, a hóstia se torna transparente como um véu, para além da aparência do pão: “Eu vi (…) Nosso Senhor no Santo Sacramento […] durante todo o seminário, exceto nas vezes em que duvidei; quando isso acontecia, eu não via nada na ocasião seguinte, porque desejava me aprofundar […]. Eu duvidava deste mistério e acreditava que estava enganada.”
No dia 6 de junho de 1830, dia da Trindade, a vista escurece: “Nosso Senhor me apareceu como um rei, com a cruz sobre o peito, no Santíssimo Sacramento […]; pareceu-me que a cruz deslizava [de seu peito] e caía sobre os pés de Nosso Senhor e […] que Nosso Senhor estava despojado de todos os seus ornamentos. Tudo caiu por terra. Foi neste momento que tive pensamentos os mais negros e os mais sombrios.”
No início da revolução de 1830, Catarina associa essa espoliação àquela que espera o rei da França: “Não sei explicar, mas vieram-me pensamentos de que o rei da terra estaria perdido e despojado de suas vestes reais.”
A sagração do rei era considerada por alguns teólogos como sacramento: o rei se revestia de Jesus Cristo.
Quanto às irmãs, elas apreciavam esta noviça vigorosa e impecável, mas irmã Caillot, a terceira diretora, adverte Catarina às vezes (sem saber de suas graças particulares): “Preste atenção, irmã Labouré, parece até que você está em êxtase!”
II – Aparição noturna da Virgem
Na noite do dia 18 de julho, vigília da festa de São Vicente, irmã Marta recorda a piedade do fundador pela Virgem. Catarina se embebe de suas palavras: “Eu me deitei com o pensamento de que nessa mesma noite eu veria a minha Boa Mãe. Havia tanto tempo que eu desejava vê-la!” E é isto o que acontece: “Então, às onze e meia da noite, escutei alguém chamar-me pelo nome: ‘Minha irmã, minha irmã!’ […] Nisso eu puxei o cortinado. Vi uma criança vestida de branco, com idade de quatro a cinco anos, que me disse: ‘[…] A Santa Virgem a espera!’ Apressei para vestir-me, e depois coloquei-me ao lado da criança, que havia permanecido de pé, sem afastar-se da cabeceira da cama. Depois, segui o menino; ele andava à minha esquerda, emitindo raios de claridade pelo caminho. As luzes estavam acesas em todos os lugares por que passamos: isso me impressionou bastante. Mas fiquei ainda mais impressionada quando entrei na capela… a porta se abriu, mal a criança a havia tocado com a ponta do dedo.”
Ela continua: “Mas a minha surpresa foi ainda maior quando percebi que as velas e os castiçais estavam acesos: isso me lembrou a missa da meia-noite. No entanto, eu ainda não via a Santa Virgem […]. Achei que estava demorando, e olhei para certificar-me de que as vigias não passavam pelo púlpito. Enfim, o menino me avisou que a hora havia chegado. ‘Eis a Santa Virgem. Ei-la.’ Escutei um barulho… como o roçar de um vestido de seda, que vinha do lado do púlpito […] A criança me disse: ‘Eis a Santa Virgem.’ Neste momento, seria impossível descrever o que experimentei, o que se passava dentro de mim. Parecia que eu não via a Santa Virgem.”
“Então o menino passou a falar-me não mais como uma criança, mas como um homem: o homem mais forte e as palavras as mais fortes.”
“Depois, fitando a Santa Virgem, eu simplesmente caí diante dela, com os joelhos sobre os degraus do altar e as mãos apoiadas sobre os joelhos da Santa Virgem.”
“Aqui, passei o momento mais doce da minha vida. Seria impossível descrever o que experimentei. Ela me disse como eu deveria me conduzir diante do meu diretor, e muitas outras coisas que não devo contar; a maneira de me conduzir nos meus sofrimentos.”
A Virgem lhe mostra “com a mão esquerda o pé do altar.” “É diante do altar que devo prostrar-me […] derramar o meu coração”, continua Catarina. “Eu receberia todas as consolações de que teria necessidade. […] Perguntei-lhe o que significavam todas as coisas que tinha visto. […] Ela me explicou tudo.”
Catarina não dá mais detalhes nessa narrativa, mas fará um pequeno resumo dessas revelações na sua autobiografia de 30 de outubro de 1876: “Minha filha, o Bom Deus deseja dar-lhe uma missão. Você sofrerá muito, mas superará tudo pensando que contribui para a glória do Bom Deus. Você conhecerá aquilo que é do Bom Deus. Será atormentada por isso, até mesmo pelo que dirá àquele que está encarregado de conduzi-la. Você será contestada. Mas terá a graça. Não tema. Diga tudo com confiança e simplicidade. Tenha confiança. Você verá certas coisas. Fale sobre aquilo que você verá e entenderá. […] Você será inspirada nas suas orações, fale sobre isso.”
Essa promessa de assistência é seguida pelo anúncio de sofrimentos:
“Estes tempos serão sombrios. O sofrimento virá precipitar-se sobre a França. O mundo inteiro será tomado por sofrimentos de todos os tipos (a Santa Virgem tinha uma expressão muito triste quando disse isso). Mas venha ao pé do altar. Aqui, as graças serão concedidas a todas as pessoas que as pedirem com confiança e fervor: grandes e pequenos. As graças serão concedidas particularmente às pessoas que as pedirem.”
“Minha filha, eu amo conceder graças a esta comunidade em particular. Eu a amo muito, com alegria.”
“E no entanto eu sofro. Há muitos abusos sobre o regulamento. As regras não são observadas. Há um grande relaxamento nas duas comunidades. Diga isso ao seu diretor, embora ele não seja o superior. Ele será encarregado da comunidade de uma maneira particular. Ele deve fazer tudo o que for possível para recolocar a regra em vigor. De minha parte, diga-lhe que vigie as más leituras, as perdas de tempo e as visitas.”
“Assim que a regra for recolocada em vigor, uma outra comunidade virá unir-se à sua. Isso não é o costume. Mas eu a amo. Diga que a recebam. Deus a abençoará e elas sentirão aqui uma grande paz.”
“A comunidade sentirá uma grande paz. Ela se tornará grande”, conclui Nossa Senhora. Mas tudo isso era para introduzir o anúncio de problemas iminentes. “Grandes sofrimentos chegarão. O estrago será grande. No entanto, não tema, diga a todos que não temam nada! A proteção de Deus está sempre aqui de um modo todo particular, e São Vicente protegerá a comunidade (a Santa Virgem estava triste durante todo esse tempo). Mas eu mesma estarei com vocês. Sempre velei por vocês. Eu lhe concederei muitas graças. O momento virá em que o estrago será grande. Tudo parecerá perdido. Eu estarei com vocês neste momento!”
“Tenha confiança, você receberá a minha visita e a proteção de Deus, e também a de São Vicente sobre as duas comunidades. Tenha confiança! Não perca a coragem. Estarei aqui com vocês. Mas não posso dizer o mesmo para as outras comunidades. Haverá vítimas. (A Santa Virgem tinha lágrimas nos olhos quando disse isso.) No clero de Paris, haverá vítimas; o Arcebispo (a esta palavra, novas lágrimas) morrerá.”
Esta profecia não se cumprirá em 1830. Não se trata da morte de Monsenhor Affre, morto nas barricadas de junho de 1848. O relato de Catarina precisa o tempo: quarenta anos após a visão de 1830. Trata-se portanto da morte de Monsenhor Darboy, em 1871.
A aparição insiste sobre os sofrimentos próximos: “Minha filha, a Cruz será desprezada. Será jogada por terra. O sangue será derramado. Abrirão de novo o flanco de Nosso Senhor. As ruas estarão cheias de sangue. O Arcebispo será despojado de suas vestes. (Aqui a Virgem não podia mais falar, a dor estava pintada em sua face).”
“Minha filha, Ela me disse, o mundo inteiro estará na dor.”
No escrito de 1856, Catarina relata o fim da aparição: “Permaneci assim por não sei quanto tempo. O que sei é que quando Ela partiu, percebi algo que se apagava, e então uma sombra que seguia para o lado do [futuro] púlpito [à direita], [no mesmo caminho] pelo qual Ela havia chegado. Levantei-me dos degraus do altar, e notei que a criança estava no mesmo lugar em que a havia deixado. Ela me disse: ‘Ela partiu.’ Refizemos o mesmo caminho na volta, sempre iluminado, com a criança todo tempo à minha esquerda. Eu acreditava que essa criança era o meu anjo da guarda, que se tornara visível para me fazer ver a Santa Virgem, porque eu havia rezado muito para que ele me conseguisse esse favor. Ele estava vestido de branco, carregando uma luz misteriosa, como se ele estivesse resplandecente de luz: tinha a idade de mais ou menos quatro a cinco anos. Quando cheguei à minha cama, eram duas horas da manhã. […] Escutei badalar a hora. Não voltei mais a dormir.”
A aventura dura portanto duas horas e meia, e Catarina, muito lúcida até a manhã, tem certeza de que não havia sonhado. Mas como dizer isso a um confessor tão desconfiado como o Pe Aladel?
III – A segunda aparição da Virgem
Eis que eclode a revolução de 1830: 27-29 de julho, as Três Gloriosas, o rei destituído, e os tumultos sangrentos que haviam sido anunciados. “Mesmo o Arcebispo de Paris foi alvo do furor da multidão […]. Parecia que os dias sombrios de 1793 se repetiam”, constata o Pe. Étienne. Mas a proteção dos Lazaristas e das Filhas da Caridade se confirma. As ameaças dos jovens amotinados não ultrapassam a porta da Casa.
IV – A Medalha Milagrosa
“Neste momento, eu não sabia mais onde estava; eu apenas exultava.”
V – Relato mais tardio
No primeiro momento, porém, Aladel recebe esse relato muito mal. O retorno das visões é um mal sinal: “Pura ilusão!, ele diz. Se você deseja honrar Nossa Senhora, imite suas virtudes, e proteja-se da imaginação”! Catarina se retira, aparentemente calma, “sem se inquietar mais”, constata o confessor. Mas isso tem relação sobretudo com o seu autocontrole e com a graça prometida, pois o choque tinha sido grande. Aliviada por ter ousado falar, ela agora tenta obedecer.
VI – Terceira e última aparição (30 de dezembro)
Mas eis que em dezembro ela revê o quadro: como no dia 27 de novembro, às “cinco e meia”, após a meditação. A Virgem tem o mesmo traje cor de aurora, e o mesmo véu azul. Os “cabelos em bandós cobrem uma espécie de fita ornada de uma pequena renda de dois dedos de comprimento”, ela descreve minuciosamente. Os raios emanados de suas mãos “cobriam toda a parte de baixo, de modo que não se viam mais os pés da Santa Virgem.” E novamente, “uma voz” se fez escutar no fundo do coração: “Esses raios são o símbolo das graças que a Santa Virgem obtém para aqueles que as pedem.” A aparição tem a expressão de um adeus. “Você não me verá mais, mas ouvirá a minha voz durante as suas orações.”
VII – A serviço dos pobres
No dia 30 de janeiro de 1831, Catarina toma o hábito e deixa o seminário. Ela é nomeada para a casa de Reuilly, bem próxima, para que a mantivessem sob vigilância. Catarina seria dada a contar histórias? Não. Ela serve na mais perfeita discrição durante toda a sua vida. Mas em todo caso, a Medalha ainda continua sem ser cunhada. Em março de 1832, uma terrível epidemia de cólera esgota o corpo dos parisienses em poucas horas, e 20.000 pessoas morrem de desidratação. Trata-se de um drama nacional, tempo de luto, de solidariedade, mas também de preces. É então que o Pe Aladel aborda o Pe Étienne, o superior, que por sua vez convence o Monsenhor de Quélen, também tocado pelo drama da Revolução que o destituíra de seu Arcebispado desde 15 de janeiro de 1831, a combater a tragédia. O Monsenhor retorna a Paris para visitar os doentes. Em maio, a epidemia recua, mas se intensifica novamente na segunda quinzena de junho; isso apressa a fabricação da medalha. No dia 30 de junho de 1832, os 1.500 primeiros exemplares são entregues. O Arcebispo passa a usá-la e manda fazer uma estátua com a sua efígie. Catarina a recebe no começo de julho. Acontecem milagres atrás de milagres, curas atrás de curas, de modo duradouro. De resto, não há nada que deva ser detalhado na vida de Catarina. Ela continua sendo fielmente uma serva eficaz e discreta dos pobres. Em Reuilly, ela se tornará novamente uma fazendeira diligente, encarregada do jardim e dos animais, sempre à altura da situação diante de idosos às vezes melindrosos e autoritários. Ela dá a medida de sua autoridade discreta e de sua capacidade de adaptação quando dos confrontos da Comuna, em 1871. Não há mais aparições, mas Catarina recebe às vezes comunicados e mensagens, com a missão de transmiti-los. E ela insiste neles até que a obediência a reduza ao silêncio.
VIII – A cruz de 1848
No início da revolução de 1848, Catarina transmite ao Pe Aladel um novo pedido: uma grande cruz deve ser erguida em Paris como um pára-raios espiritual: “Esta cruz será chamada de Cruz da Vitória. Ela será fonte de grande veneração. De toda a França e do estrangeiro, uns virão aqui por devoção, outros em peregrinação, e outros por curiosidade. Então, haverá proteções muito particulares que conterão milagres. Nenhuma pessoa virá a Paris sem ver e visitar esta cruz como uma obra de arte.” Neste relato, Catarina, de pouca formação, comete um erro de ortografia, o que lhe traz descrédito. O sublime se perde no vulgar, e Aladel encontra nisso motivo de riso. Ela prossegue: “Na base da cruz, será representada toda essa revolução, tal como aconteceu. Essa base quadrada me pareceu ter de 10 a 12 pés de altura, e a cruz, de 15 a 20. E uma vez erguida, parecia que ela tinha uns 30 pés de altura.” Dez metros, isso não é algo enorme: um pouco mais que os 7,40m das cruzes que se multiplicam hoje pelo mundo, como miniaturas da cruz de 740 metros pedida em Dozulé. Estamos longe da cruz de 700m que Claudel desejava colocar sobre uma catedral de Chicago. Uma vez mais, Catarina não é ouvida. Aladel lhe ordena que não fale mais disso. Não lhe resta mais que escrever pela última vez: “Padre, esta é a terceira vez que lhe peço esta cruz, depois de ter consultado o Bom Deus, a Santa Virgem e o nosso bom pai São Vicente. […] Em vez de me encontrar aliviada, eu me sentia cada vez mais pressionada a dar-lhe tudo por escrito. Assim, por obediência, eu me submeto. Acho que não ficarei mais inquieta sobre isso. Eu sou, com o mais profundo respeito, sua filha completamente devota dos sagrados Corações de Jesus e Maria.” A cruz era bastante popular em 1848. Os amotinados carregaram em triunfo uma cruz que eles tinham salvado da pilhagem das Tulherias, mas Aladel não aproveitou a oportunidade.
IX – Lourdes – 1858
Quando Catarina ouviu falar da aparição, ela disse de imediato:
“É a mesma!”
“O que há de mais extraordinário, escreve irmã Dufès, sua superiora, é que sem ter lido nenhuma das obras publicadas, a irmã Catarina conhecia mais o que havia acontecido do que as pessoas que tinham feito a peregrinação.”
Na opinião de Catarina, a Virgem fora obrigada a aparecer tão longe porque a capela comunitária das irmãs, essencial à comunidade, não estava aberta ao público. Três irmãs anotaram suas reflexões a este respeito:
“E dizer que esses milagres poderiam ter acontecido na nossa capela!” (Testemunho da irmã Tranchemer)
“Se os nossos superiores tivessem querido, a Santa Virgem teria escolhido a nossa capela.” (Irmã Millon)
“Minha Boa Mãe, aqui não querem fazer o que você deseja, manifeste-se em outro lugar!”, ela teria escrito, segundo irmã Pineau.
Catarina exprimia sua mágoa pelo fato de que a capela da Rua do Bac não fosse aberta ao público, o que impedia a prosperidade da própria congregação, sendo a capela já bem pequena para as numerosas irmãs e as 500 noviças.
No dia 25 de abril de 1865, o Pe Aladel morreu. Ele tinha sido o confessor de Catarina até a sua morte.
X – A Virgem com o globo
Catarina estava atormentada pelo fato de que a Medalha Milagrosa, que já alcançara milhões de exemplares, não representava o que ela havia visto em 1830: a Virgem com um globo em suas mãos resplandecentes.
Irmã Dufès se sobressaltou:
“- As pessoas dirão que você é louca!
– Ó! não será a primeira vez! O Pe Aladel me chamava de víbora quando eu insistia nisso!”
Ela então lhe contou o que acontecera.
“- Mas o que aconteceu com essa esfera?
– Eu passei a ver somente os raios que emanavam de suas mãos, responde Catarina.
– Mas o que acontecerá com a Medalha se nós publicarmos isso?
– Ó! não é preciso tocar na Medalha Milagrosa.
– Mas se o Pe Aladel recusou, ele tinha as suas razões.
– Este é o martírio da minha vida, Catarina responde.
– Mas se o globo da Terra já está sob seus pés, haveria então um segundo globo nas suas mãos?”
Nem Catarina, nem a irmã Dufès jamais explicaram como a vidente conciliava as duas imagens.
A irmã Dufès ficou ainda mais perplexa pelo fato de que Catarina não era infalível em suas intuições. Ela havia mandado cavar a terra, em Reuilly, no dia seguinte à Comuna, para descobrir à profundidade de 1,50m “uma pedra plana, como uma pedra tumular”, da qual deveriam “construir uma capela”, ou de preferência “uma igreja”. Em seguida, escavaram e não descobriram nada: “Você estava errada”, concluiu irmã Dufès. Catarina se rendeu à evidência: “É verdade, irmã, eu me enganei. Acreditava estar certa. Estou contente porque se conheceu a verdade.”
Pode-se medir por esse episódio a dificuldade de discernimento, quando o assunto é aparições. O Pe Aladel discerniu bem quando recusou a cruz de 1848, que teria podido ganhar um esplendor considerável? Ele teve razão de recusar a Virgem do globo, cujo projeto a irmã Dufès finalmente apoiou, não obstante a primeira recusa categórica do superior? “Não há dúvida: duas imagens da Virgem no altar trarão muitas dificuldades.”
Mas ele tinha permitido uma fabricação “privada” do modelo para a casa de Reuilly. O modelo feito segundo as indicações de Catarina, que sempre escondia sua identidade, foi finalmente colocado na capela da Rua do Bac, sem que se percebesse o que isso poderia acrescer à Virgem das mãos abertas e resplandecentes, já colocada sobre o altar central.
Sem resolver o dualismo das duas representações, eu no entanto reuni um dossiê (Vie de Catharine, t.II). Cumpre acrescer-lhe as pesquisas de Chevalier (Médaille Miraculeuse, 78 e 86), que questiona Catarina sobre esse ponto. Waldemar Rakocy, padre polonês, publicou na primavera de 2007, na revista da congregação Vicentina, uma análise de todos os textos sobre a questão. Em resumo, no início da aparição, a Virgem tinha nas mãos um globo luminoso (a Terra). A luz se tornou ofuscante. Catarina não viu mais o primeiro globo, mas somente os raios luminosos e o globo colocado sob seus pés (a Terra igualmente). Qual era a posição das mãos neste momento? As investigações não o precisam. Em todo caso, Catarina indicou à irmã Dufès: “Não é preciso mudar nada na medalha!” Isso torna provável o seguinte fato: Aladel teve razão de conservar a fase final representada na medalha, porque não é o globo que emite luz, mas as mãos da Virgem. A medalha deveria mesmo representar somente esta etapa final, quaisquer que sejam as variantes das três aparições.
Um franciscano americano mandou cunhar uma medalha da Virgem com o globo, conforme as indicações diferentes da vidente.
Catarina, no início dos seus sessenta anos, sentiu o peso da idade. Seu segredo começava a vazar aos poucos. Ela também recebeu a visita do marechal de Mac Mahon, no tempo em que as famílias não estavam autorizadas a subir à enfermaria. Durante sua agonia febril, ela manifestou o lado intuitivo da vida dupla que havia acompanhado discretamente o seu trabalho regular, cotidiano e perfeitamente inserido nas mais diversas situações sociais. Na hora da morte, ela pediu que sessenta e três crianças recitassem ao redor de sua cama cada uma das invocações da ladainha de Nossa Senhora.
“Ela perdeu a cabeça”, pensavam. Havia somente trinta e sete invocações na ladainha em uso nas Filhas da Caridade; e menos ainda na ladainha de Lorette. “Há sim, protestou Catarina. Vocês as encontrarão no Ofício da Imaculada Conceição… no nosso livro de preces.”
Irmã Dufès fez as contas. Estava correta. Catarina, que já sabia contar nos dedos antes de aprender a ler e a fazer adição, contava muito bem, como o prova a contabilidade impecável que ela mantinha para a fazenda de Reuilly, controlando as vacas, os coelhos e os porcos. Ela teve satisfeito este último pedido, que não revelava vidência, mas apenas a precisão de seu espírito contábil, habitado pela poesia e pelo simbolismo. Ela via no número 63 a representação de uma tradição oral que atribui à Virgem sessenta e três anos de vida: quinze antes e quinze depois dos trinta e três anos da vida de Cristo. Ela dedicou a Nossa Senhora os setenta anos de sua vida laboriosa, que faziam dela a anciã do convento, a primogênita de Nossa Senhora. Ela viveu o momento derradeiro com sua poesia, sua familiaridade e seu humor, mas também com a felicidade de partir para o Céu. “Por que teria medo de ir ver Nosso Senhor, sua Mãe e São Vicente?” Esta foi uma das últimas falas de Catarina, antes que fechasse seus olhos azuis.