Aquele que tudo comanda

Raymundo pede esclarecimentos sobre os castigos que ameaçam a humanidade. Três anciãos aparecem e lhe concedem algumas respostas. “Os alicerces da Casa criada por Aquele que tudo comanda foi abalado, não há mais conserto. Através de Jesus virá a misericórdia pelos justos e o castigo daqueles que contribuíram para a ruína dessa Casa”.

18 de outubro de 2005 

Recebi há poucos dias dois envelopes de uma pessoa do sul do Brasil, o que me deixou confuso e um pouco surpreso. Como pode alguém aparentemente espiritualizado, que parece ter os pés no chão, colocar em duas pequenas correspondências tanta coisa envolvendo diversos assuntos, alguns sem pé nem cabeça, outros transparecendo claramente problemas psicológicos, todos com uma forte tendência a dar somente notícias desastrosas para a humanidade, como se Deus quisesse por todos os meios se vingar das nossas faltas e dos pecados cometidos contra a doutrina de Jesus e da Igreja? O assunto abrangia vidência, política, maçonaria, candomblé etc. Uma verdadeira salada que, ao invés de informar e converter, leva medo ao leitor ou o descrédito total às manifestações da sua consciência. Por fim, há um convite para que eu participe de uma conferência de videntes.

Li tudo com paciência e procurei entender o motivo, pois percebi que havia sinceridade por parte do remetente, embora lhe faltasse um mínimo de discernimento sobre aquelas matérias.

A mensagem era clara. Com os nossos desmandos estamos acabando com o nosso planeta, e por isso Deus mandaria castigos para nos afligir. O mundo transformou-se numa imensa Sodoma, e não restaria outra alternativa a Deus senão mandar terremotos, maremotos com ondas gigantescas, geleiras derretendo, o nível do mar alterando, furações arrasando cidades, enchentes em alguns lugares, secas em outros, pragas, terrorismo e violência em escala mundial, corrupção desmedida, e havia até acusações ao papa Bento XVI. Tudo isso estava acontecendo no mundo ao mesmo tempo, e o veredicto era que erramos, pecamos contra a doutrina de Jesus, e por isso estamos condenados à destruição.

A sensação era de que Jesus havia trocado a misericórdia pelo julgamento. Havia desistido de não julgar o mundo, passando de novo ao tacão de Deus Pai para dirigir a humanidade como no Velho Testamento.

O documento me perturbou. Resolvi então entrar na capela com o envelope. Sentei, fechei os olhos e pedi:

– Senhor bom Deus, me ajude a compreender essas coisas para que eu possa passar aos outros, com sinceridade e correção, o que realmente está acontecendo. Senhor Jesus, permita que o seu anjo me visite mais uma vez. Espírito Santo de Deus, me ajude a tirar as dúvidas a respeito de tudo isso.

Ao abrir os olhos, vi surpreso o “menino” que sempre me visita. Estava sentado ao meu lado, olhando e sorrindo para mim. Nada dizia, apenas sorria e me olhava.

Eu então exclamei:

– Olha quem está aqui!… Pedi a Jesus que você viesse, e você veio!

– Aquele que tudo comanda atendeu o seu chamado – ele respondeu.

– Pegue na minha mão.

– Eu não… Você mesmo sempre diz que não devo tocar em você…

– Agora pode. É necessário que isto seja feito assim.

Peguei então na mão do menino, e procurei apertá-la um pouco mais para confirmar se era real ou ilusório o que estava acontecendo.

Ele me olhou mais uma vez, e sorriu:

– Procure acreditar, porque Aquele que tudo comanda quer atender o seu pedido.

Depois caminhou em direção à porta da capela. Eu o acompanhei segurando a sua mãozinha, e perguntei:

– Para onde está me levando?

– Não tenha medo. Você deseja alguns esclarecimentos, e é vontade d’Aquele que tudo comanda atendê-lo.

Ao chegar à porta da capela vi que, ao invés de dar para o pátio, ela dava acesso a um salão todo branco. Pisos, paredes e teto, tudo branco. No centro tinha três pedras claras como mármore branco. Nelas estavam sentados três senhores de aproximadamente 65 ou 70 anos, com barba e bigode grisalhos e pequenos, cabelos fartos quase à altura dos ombros. Eles vestiam uma espécie de roupão comprido, de cor acinzentada. O pano fazia cintura na altura dos quadris, mas não havia cinto nem cordão. Os três eram perfeitamente iguais. Eles me olhavam sem nada falar, parecendo me observar.

Então o menino me disse:

– Vamos, pergunte o que deseja esclarecer.

Dizendo isto, parece ter-se afastado, pois não o vi mais. Os senhores me observavam, esperando que eu falasse. Criei coragem e perguntei:

– Quem são vocês?

O da esquerda respondeu:

– Somos enviados d’Aquele que tudo comanda.

– Quem é Aquele que tudo comanda? – repliquei.

O senhor do meio respondeu:

– Aquele que dirige tudo que existe.

– E quem dirige tudo que existe?

O senhor da direita respondeu:

– Aquele que tudo comanda.

Eu fiquei literalmente sem ação, sem saber como direcionar as minhas perguntas. E eles me olhavam como que esperando eu falar. Em seguida abaixei os olhos e continuei:

– Vocês conhecem o conteúdo daquele envelope que deixei na cadeira da capela?

Eles responderam em uníssono:

– Conhecemos.

– Vocês acham que aquilo está certo?

– O que é certo? – o senhor da direita perguntou.

– Aquilo que a nossa consciência dita como certo – respondi.

– E quem lhe forneceu a consciência? – perguntou o senhor da esquerda.

– Foi Deus.

– O que dita a sua consciência? – perguntou o senhor do meio.

– É para isto que pedi ajuda. Não sei…

– Como não sabe, se você mesmo disse que quem fornece a consciência é Deus? Como Deus pode lhe fornecer uma coisa que não sabe? – perguntou o senhor do meio.

Eu fiquei desconcertado, sem saber como continuar, mas ainda assim falei:

– Olha, acho que está havendo uma confusão geral, estamos acabando com o mundo e queremos colocar a culpa em Deus.

– Você consegue culpar Deus por tudo que está acontecendo? – perguntou o senhor do meio.

– Não. Se Deus criou tudo perfeito, e se tudo está dando errado é por culpa nossa.

– Respondeu certo – disse o senhor da esquerda.

– O que mais quer saber? – perguntou o senhor da direita.

– Desejo saber se tudo que está acontecendo no mundo é mandado por Deus devido aos nossos desmandos com a natureza, e se estamos sendo castigados por isso.

– O que diz a sua consciência? – perguntou o senhor da esquerda.

– Me diz que estamos fazendo tudo errado com aquilo que Deus criou como bom, e por isso a natureza está se voltando contra nós, e não Deus.

– Falou muito bem – disse o senhor da direita.

– O que mais quer saber? – perguntou o senhor da esquerda.

– Desejo saber se Jesus está retornando, e se isso tudo são avisos do seu retorno.

– O que diz a sua consciência? – perguntou o senhor do meio.

– Por que vocês apelam para a minha consciência?

– Porque é nela que está a resposta que procura – disse o senhor da direita.

– Bom, no que li e entendi dos Evangelhos, me parece que já estava nos planos de Jesus retornar à Terra para dar continuidade à Igreja. E Ele escolheu esta ocasião em que estamos perdidos no meio de tantos desmandos, porque aí teremos a misericórdia ao invés do castigo.

– Continue – me pediu o senhor da esquerda.

– Acho que Jesus não veio para julgar o mundo. Se vamos esperá-lo no meio de tanta confusão, falta de fé, e se estamos sem meios de interromper esse processo, somente através da misericórdia divina seremos salvos.

– Você tem certeza disso? – perguntou o senhor da direita.

– Tenho.

– Por quê? – perguntou o senhor do meio.

– Porque somos fracos, e o poder de Deus é infinitamente maior que o nosso. E um poder deste não pode castigar o fraco, seria uma covardia.

– Você então não acredita nos castigos divinos? – perguntou o senhor do meio.

– Claro que acredito… Mas acho que são individualizados. São os erros de cada um. Nós cavamos a nossa própria ruína. Se todos estiverem errados, um só será o castigo. Mas se existem inocentes suficientes para uma salvação, Deus irá fazer as coisas de modo que sejam castigados aqueles que pecaram.

– Existem inocentes suficientes no mundo de hoje, para que Deus individualize os castigos? – perguntou o senhor da esquerda.

– Tenho certeza que existem!

– O que lhe dá tanta certeza? – perguntou o senhor da direita.

– A minha consciência e a consciência de todos aqueles que amam a Deus e não desejam de forma alguma a destruição do mundo. Não podemos ser penalizados por desmandos cometidos por uma minoria. Tudo pode acontecer, porque desafiaram a natureza criada por Deus, mas será esse mesmo Deus que irá tirar os justos desse processo.

– Então acredita que Jesus retornará à Terra para a salvação dos justos? – perguntou o senhor do meio.

– Acredito.

– Então acredita que Jesus será a perdição daqueles que desafiaram a natureza? – perguntou o senhor da direita.

– Acredito.

– Isto não impede que muitos morram, pois Deus deseja o retorno da alma e não do corpo perecível. Será a alma a ser julgada pelos desmandos, e não o corpo. E quando uma casa é mal administrada, grande é a ruína dessa casa, mesmo que nela morem justos – disse o senhor do meio.

– Então teremos problemas?

– Os alicerces da Casa criada por Aquele que tudo comanda foi abalado, não há mais conserto. Através de Jesus virá a misericórdia pelos justos e o castigo daqueles que contribuíram para a ruína dessa Casa – respondeu o senhor da esquerda.

– Então o mundo será destruído?

– Não dissemos isto – respondeu o senhor da esquerda.

– Então disseram o quê?

– A destruição na medida daqueles que contribuíram para a ruína da Casa. Não será o fim da Casa, mas a oportunidade criada por Aquele que tudo comanda para mostrar a força da misericórdia e transformar o que resta dessa ruína numa nova Casa – respondeu o senhor da direita.

– Entendi que teremos problemas materiais e que as nossas culpas serão julgadas por Deus na medida das nossas responsabilidades com o mundo.

– Isto mesmo, entendeu bem – falou o senhor da esquerda.

– Por que Deus me proporciona esses diálogos?

O senhor do meio ficou de pé, aproximou-se de mim e chamou o menino, que parecia estar atrás de mim. O menino veio e ficou perto do senhor, que lhe disse:

– Diga a ele por quê.

O menino pegou de novo nas minhas mãos, e eu vi uma cena interessante. Parecia um terremoto, muitas casas caindo, mares agitados, tempestades, e eu estava caindo num buraco enorme, quando uma mão me amparou. Nisso o menino disse:

– A Mãe terrena d’Aquele que tudo comanda sempre pede por você.

– Vou poder me lembrar de tudo isso para escrever?

– Você deseja escrever?

– Desejo.

– Então a Mãe terrena d’Aquele que tudo comanda providenciará para que lembre de tudo isso.

Depois me vi sentado na capela, com tudo tendo voltado ao normal.

 

 

Referência: LOPES, Raymundo. Aquele que tudo comanda. In: LEMBI, Francisco. O Terceiro Segredo: A Vinda de Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2005. p. 184-189.