Entrevista com René Laurentin (1996)

Catequese

Raymundo Lopes foi recebido pelo padre René Laurentin em Paris, entre os dias 12 e 14 de dezembro de 1996. As entrevistas renderam um artigo na revista Chrétiens Magazine de 15 de janeiro de 1997.

 

Chrétiens Magazine nº 97. 15 de janeiro de 1997.

 

Belo Horizonte (Brasil)

Aparições no rastro de Fátima e Medjugorje

Encontro com Raymundo Lopes

 

Há muitos meses a senhora Maria Pinheiro, de Morsang-sur-Orge, me pediu para receber o vidente Raymundo Lopes, de Belo Horizonte, no Brasil. Eles me visitaram em casa nas datas marcadas, de 12 a 14 de dezembro de 1996.

Raymundo, nascido a 21 de abril de 1941, em Belo Horizonte, casado há 9 anos, a 12 de dezembro de 1987, é pai de duas crianças: Frederico, 7 anos, nascido a 5 de junho de 1988, e Myriam, 4 anos, nascida a 10 de novembro de 1992. Ele é um brasileiro perfeito, transparente e de uma perfeita sociabilidade. Respondeu às minhas perguntas de maneira direta, sem preparo, nem cálculo, nem afetação, e não sem humor. Ele tinha em Belo Horizonte uma pequena empresa de importação, que abandonou para se consagrar à Virgem. Eis o seu testemunho sobre as suas aparições presumidas (não reconhecidas pela Igreja).

 

René Laurentin: Quando foi que aconteceu a sua primeira comunicação com a Santa Virgem?

Raymundo Lopes: No dia 28 de janeiro de 1992, às 2 horas da manhã, uma voz me chamou. Eu pensei: foi um sonho. Voltei a deitar, e escutei a voz pela segunda vez. Daí eu me levantei: mas que sonho foi esse? Voltei a deitar, e escutei a voz pela terceira vez.

Esse triplo chamado é semelhante à vocação de Samuel (ou de Madre Yvonne Aimée).

(Raymundo não reagiu. Ele ignorava o episódio bíblico do primeiro livro de Samuel). (Ele continuou). Uma luz acompanhava a voz. “Eu tenho coisas importantes a lhe dizer. Você aceita?” Era uma terça-feira.

Você disse “sim”?

Sim, mas eu queria saber quem falava comigo, porque não tinha visto ninguém. Ela me disse: “Eu virei por nove terças-feiras consecutivas. Eu lhe direi quem sou”. Na sexta terça-feira, eu vi a Virgem pela primeira vez. Isso aconteceu na Igreja de São Sebastião. Ela me disse: “Eu sou a Senhora do Rosário”. Eu já suspeitava que era Ela, e desde então fiquei convicto.

Como Ela aparecia?

Como uma jovem de 23 ou 24 anos, vestida com um manto branco, a tez de um moreno claro, os cílios longos, grandes olhos azuis, as mãos postas, os dedos afilados. O manto lhe caía bem justo no corpo, mas a cintura não era visível.

Você viu os pés?

(Eu coloco esta questão com frequência, pois, segundo a antiga tradição, “o demônio esconderá os seus pés”. Não dou muita importância a isso, mas exploro esse detalhe para aqueles que se importam com ele).

Eu vi a ponta dos pés. O manto era como uma nuvem. Uma luz cintilava embaixo. Eu a vi nas quatro últimas terças-feiras.

Mas Ela se identificou com clareza?

Ela disse: “Eu sou a Senhora do Rosário”.

Você ficou surpreso?

(A mímica de Raymundo respondeu com eloquência.)

E desde então você a vê todas as terças-feiras?

Na nona terça-feira eu tive a quarta aparição. Isso foi no dia 31 de abril. Ela me disse neste dia: “Tenho outras coisas a lhe dizer. Vou aparecer a você 20 vezes (no total)”, a última no dia 11 de fevereiro de 1997. Desde então eu a vi 19 vezes, mas escuto a sua voz toda terça-feira.

Então são locuções.

Eu escuto com o meu ouvido, e não no interior.

Mas desde que você escuta sem ver, isso se chama locução, e neste caso uma locução sonora (auditiva e não intelectual). Fale mais sobre isso.

Sim, eu escuto desse modo, e precisamente no meu ouvido direito, de que sou surdo, como meu olho direito é cego.

Mas você parece me ver através dos óculos que você coloca na ponta do nariz.

Sim, mas eu o vejo com o olho esquerdo (ele coloca a mão sobre este olho), e assim (com o olho direito) eu não o vejo mais. Sou cego do olho direito desde os 13 anos.

As pessoas comparecem em grande número às raras aparições, mas isso também acontece nessas locuções auditivas de terça-feira?

Não, eu fico no meu quarto ou então com algumas poucas pessoas, na capela da minha casa fora da cidade.

 

RESERVAS OFICIAIS

O que pensa o padre da sua paróquia?

Era um amigo. Ele não acreditava completamente. Deixou o sacerdócio para se casar agora em setembro. O outro padre acabou de chegar. Ainda não tive contato com ele.

E o arcebispo, Dom Serafim Fernandes de Araújo (72 anos), o que ele pensa?

Que eu faço isso para ganhar dinheiro.

Você já se reuniu com ele?

Uma vez.

O que ele disse?

Ele me pediu que parasse de conduzir o terço na igreja.

E você parou?

Sim, durante seis meses eu não apareci na igreja. Mas depois a Virgem me fez esta observação: “O bispo lhe pediu para não conduzir o terço, mas ele não o proibiu de rezar com os outros”. Então eu voltei a rezar na igreja.

E é você que diz a primeira parte do Pai-Nosso e da Ave-Maria?

Não, eu fico em algum lugar qualquer, não na frente de todos como antes. E rezo com toda a assembleia. Outro missionário conduz o terço.

 

DESEMPREGADO POR NOSSA SENHORA

Como você concilia a sua atividade de vidente com a direção da sua empresa de importação?

Não tenho mais esse problema. Parei de trabalhar em novembro-dezembro de 1992.

Definitivamente?

Decidi parar por 5 anos, para me consagrar inteiramente à oração e ao serviço de Nossa Senhora.

Mas com o fim das aparições, no dia 11 de fevereiro próximo (1997), você pretende retomar o trabalho?

Não sei.

Mas em 1997 serão 5 anos, uma vez que você parou de trabalhar em dezembro de 1992.

Sem dúvida. Pensarei nisso depois do fim das aparições, no dia 11 de fevereiro.

Mas como você faz para sustentar a sua família?

Minha mulher trabalha com seguros (vida e automóvel). Com isso nos sustentamos na modéstia, economizando em tudo.

Isso quer dizer o quê?

Na comida: pouca carne, nada de uísque. Roupas, nós não compramos nada novo. Usamos o que já temos. Nós cortamos gastos em tudo. (Ele disse isso com bastante alegria e serenidade.)

Mas a sua blusa parece nova. Ela é bem bonita.

Ela me foi emprestada por uma irmã do Monte Calvário, para esta viagem a um país frio… A Virgem me disse que eu não seria pobre.

Mas o que você faz todos os dias?

Eu estou à disposição da Virgem, especialmente para encontros de oração no Brasil e às vezes no exterior (Peru).

Fale das mensagens recebidas.

A partir de 9 de fevereiro de 1993, Nossa Senhora me dita uma mensagem toda terça-feira, sempre pelo meu ouvido surdo. Eu escrevo à medida que Ela dita.

O que Ela pede?

Recitação e difusão do Rosário, conversão, jejum, confissão regular, missa cotidiana e adoração, leitura da Bíblia, abertura ao Espírito Santo. Recebi três mensagens mais importantes: “os três selos”, que constituem uma aliança e uma proteção para o Brasil e para a América Latina, em ligação com Fátima e Medjugorje.

O que aconteceu quando você se encontrou com Marija (de Medjugorje), na viagem que ela fez ao Brasil?

Eu sabia que ela viria; 90 dias antes, a Virgem me havia dito: “Eu vou lhe enviar uma vidente de Medjugorje para recitar o Rosário junto com você na basílica, antes do dia 11 de fevereiro de 1993”. Ela chegou no dia 9 de fevereiro. Parecia me conhecer.

E esses “três selos”, do que se trata?

O primeiro é a Medalha Missionária. Eu a recebi no dia 13 de outubro de 1992, durante uma missa na Basílica de Lourdes, em Belo Horizonte. Três anjos me mostraram os símbolos desta medalha. Na frente: uma enorme serpente se debatia, perfurada por um “M” de onde surgia um lírio coroado de 12 estrelas. Embaixo, eu li estas palavras: “Os servos de Maria terão segurança”. Depois eu vi a parte de trás da medalha, um coração vermelho brilhante que batia; e embaixo esta frase: “Por fim o meu Coração Imaculado triunfará”. Aqueles que usarem a medalha receberão muitas graças. “Este símbolo os conduzirá à vitória”. E assim foi cunhada a Medalha Missionária.

No dia 18 de setembro de 1993, eu estava num vilarejo chamado Monsenhor Alexandre (Distrito de Cláudio, MG, Brasil). Recebi o Pai-Nosso da Esperança na Igreja de Santo Antônio. Nossa Senhora me apareceu junto de um homem alto, de olhos azuis e com uma túnica branca. Ela tinha uma rosa dourada nas mãos, símbolo da Igreja. Ela disse: “Este é Jesus e temos algumas coisas a lhe dizer. Reze conosco. A Igreja precisa de ajuda com urgência”. Daí eles recitaram juntos o Pai-Nosso da Esperança, pedindo em seguida que o rezemos e que adoremos a Eucaristia. E concluíram: “Existe um movimento (pretensamente) renovador que levará a Igreja à ruína: um grande cisma e inúmeras apostasias. Mas a Igreja, fundada sobre a rocha, será preservada”.

No dia 11 de fevereiro de 1995, na Igreja de São Bento em Belo Horizonte, eu recebi o terceiro selo: o Terço da Divina Chama. A Virgem apareceu com Santa Catarina Labouré e Santa Teresa do Menino Jesus. As duas recitaram juntas o novo terço. Uma começava e a outra respondia. Esse terço deve ser recitado diante do Santíssimo Sacramento e antes da Comunhão. As dez Ave-Marias são substituídas pela invocação: “Vinde Espírito Santo, sede a nossa força e o nosso entendimento”.

O que aconteceu durante a sua última aparição, no último 13 de maio (1996), dia do aniversário de Fátima?

Era a 19ª e penúltima aparição. Como combinado, eu a esperava na Praça do Papa, que tem esse nome porque foi lá que o papa João Paulo II foi recebido, por ocasião da sua viagem de 1981. Sobre o lugar, eu teria preferido o meu quarto, mas os Missionários do Coração Imaculado decidiram dessa forma. A praça estava cheia de gente. Às 16:50 Nossa Senhora chegou, como sempre vestida de branco e envolta por uma auréola muito bela. Ela disse: “Obrigada por estar aqui. Venho despedir-me de você, pois este é o nosso penúltimo encontro. O último acontecerá no dia 11 de fevereiro de 1997, quando o sol não estiver fazendo sombra sobre a sua cabeça… (Nós não estamos longe do equador.)” Eu não compreendi bem. Perguntei: “A que horas?” “Ao meio-dia. Depois deste encontro, o tempo que o Pai me concedeu terá terminado. Ele lhes enviará o Espírito da verdade e sua luz. Ele os ajudará a dar testemunho de tudo isso que venho lhes transmitindo. Tenham confiança nas minhas palavras e sigam os meus conselhos. Vocês do grupo missionário e todos os seus amigos sofrerão muito e serão impedidos de levar ao mundo as minhas mensagens. Confiem em mim, pois eu amo todos vocês”.

Na sequência veio a oração que você pode encontrar nos livros: “Pai Criador, forja em nós a perfeição dos pensamentos puros. Cria em nossa matéria cada vez mais o teu influxo divino, a fim de que, vivendo na terra, possamos contemplar o céu…”

Eu havia pedido um grande milagre, para que todos acreditassem. Mas a Virgem disse: “Não, eu fiz grandes milagres em Lourdes e Fátima. Isso pouco serviu. O milagre acontecerá nos corações. Lute para que este milagre aconteça. A sua mudança de vida fará de você um testemunho. O milagre acontecerá no coração de cada um”.

No dia 13 de junho de 1995 a Virgem lhe disse novamente o seu nome?

Sim. Ela disse: “Eu sou a Theotokos” (em grego: mãe de Deus). “Eu não sabia escrever isso. Larguei a minha caneta por um minuto, e depois consegui escrever facilmente em letras garrafais. Um padre me disse: ‘Isso está correto, em grego’ (mais precisamente: considerando a diferença de que a primeira letra de THEOTOKOS existe em francês, ele a transcreveu como o TO de TOKOS. Ele escreveu TEOTOKOS.)

Em que essas aparições mudaram a sua vida?

Em tudo.

Fale mais.

Meu modo de ver a vida. Antes eu vivia de festa em festa e de diversão em diversão. Eu era conhecido na sociedade de Belo Horizonte. Amava essa vida. Agora a minha família e a oração me bastam.

Como você reza durante o dia?

Eu me levanto às 6 da manhã. Levo o filho para a escola das irmãs.

De carro? É longe?

Não, é bem perto, nós vamos a pé. A escola abre às 7 horas, depois eu vou ao convento das clarissas, e rezo durante uma hora. Em seguida, sigo para o trabalho no Serviço de Informação Mariana (SIM, fundado pelo padre Mário Gerlin, onde trabalham voluntariamente os Missionários do Coração Imaculado). Até às 17 horas eu rezo os três terços do Rosário ao longo do dia: 9 horas, os mistérios gozosos; 15 horas, os mistérios dolorosos; 17 horas, os mistérios gloriosos.

Na segunda-feira eu recito um dos três terços na casa de Getúlio e Elizabeth Cury; na terça, na Basílica de Nossa Senhora de Lourdes (um dos três terços) seguido do Terço da Divina Chama. Durante as férias, rezo em família na capela da minha casa, distante cerca de 8 quilômetros da cidade.

E a missa?

Assisto todo dia às sete e quinze, depois de levar o meu filho para a escola. Mas às vezes há missa na capela da minha casa, quando o padre Léo Persch, o padre Rubem ou o padre Celestino me visitam.

Você reza à noite em família?

Com a minha mulher e filhos.

Mas não a filha.

Não, ela sofre de hidrocefalia.

Ela vai ser operada?

Não. Ela já foi operada 8 vezes. Sem sucesso. Como a minha mulher trabalha, tivemos que contratar uma pessoa para cuidar dela durante o dia.

(Ele falou de sua filha com muito afeto e ternura, superior à provação que assumiu por amor.)

O que a Virgem pede?

A Virgem pede conversão, o mais rapidamente possível. Ela ama muito a América Latina, mas nós estamos em um tempo de confusão. Não se vive suficientemente o Evangelho. Ele é mal compreendido. A humanidade está ameaçada por uma grande apostasia. “Rezem, divulguem as mensagens, Ela disse, e eu farei o resto”.

Mas por que você veio à França?

Eu não queria vir. Mas a Virgem me encorajou a fazer contatos a fim de encaminhar as pessoas para ela. Depois da última aparição de 11 de fevereiro de 1997, haverá muitas falsas aparições. Será preciso desconfiar e discernir bem.

(Aqui eu me dirigi ao padre Léo Persch, 71 anos, que é o diretor espiritual de Raymundo.)

Quando você conheceu Raymundo?

Padre Persch: Depois da segunda edição do meu livro A segunda vinda de Jesus (outubro de 1995, 50.000 exemplares no ano).

Qual é o seu parecer?

Eu sou um observador. Toda a mensagem de Raymundo é perfeitamente conforme à Sagrada Escritura, como também às mensagens do padre Gobbi e da Vassula.

Raymundo: Da minha parte, não conheço nada de teologia. Conheço mal a Bíblia. A Virgem me pediu para ler o Evangelho, e eu lhe disse: “Me ensine”. Ela me respondeu: “Cabe a você estudar. Antes, você tinha tempo para se divertir. Agora você tem tempo para meditar o Evangelho”.

Qual foi a sua última locução?

Aos cinco minutos da última terça. Eu estava no voo da Air France São Paulo-Paris, sentado entre o padre Léo Persch, à minha direita, e um rabino com a sua quipá, à minha esquerda. À direita, o Novo Testamento; à esquerda, o Antigo. Ela me passou uma mensagem para os Missionários do Coração Imaculado e me falou sobre o segundo mistério doloroso.

Porque, neste momento, ela vem lhe falando sobre um mistério do Rosário por vez?

Sim, era então o sétimo mistério da série.

Qual é a melhor lembrança da sua vida?

O dia em que a Santa Virgem me convidou a tocá-la. Eu a considerava um espírito. Compreendi então que ela era uma pessoa real.

Fale mais sobre essa experiência.

Durante a aparição, eu não via o mundo exterior, mas somente a Virgem luminosa. Quando toquei os seus pés, a luz se apagou e ao mesmo tempo pude ver as pessoas ao meu redor. Pensei que todos então viam a Santa Virgem, porque ela estava lá, tão real como as outras pessoas. Isso me deixou uma impressão profunda.

Outra maravilhosa lembrança é a do dia do meu casamento, que completa nove anos hoje (12 de dezembro 1996).

E qual a sua pior lembrança?

A morte dos meus parentes. Meu pai, em 1965; mamãe, em 1970; depois meus dois irmãos, Sérgio, no dia 12 de outubro de 1989, e Fernando, no dia 28 de julho de 1994. Fernando era o mais velho. Nós éramos bastante unidos. Ele acreditava nas aparições.

E as operações sem sucesso da sua filha?

A Virgem me fortaleceu.

(Aqui eu interroguei Wanderley Godoy, um dos missionários que acompanham Raymundo.)

Explique o que são os missionários e o que eles fazem.

Os missionários foram fundados pelo padre Mário Gerlin (morte em 1993), o confessor de Pierina Gilli de Montichiari (Itália). Em Belo Horizonte, nós pertencíamos ao Cenáculo do Padre Gobbi, que veio aqui. Tínhamos 4 encontros de oração por semana. Fundamos o SIM (Serviço de Informação Mariana) para difundir as mensagens. A Virgem pediu para formar um grupo sob o nome de Missionários do Coração Imaculado, cuja atuação deve se estender pelo Brasil e pelo mundo inteiro.

O que pensam os bispos?

Muitos aceitam.

Você possui testemunhos?

Nenhum oficial, pois eles sabem que o arcebispo de Belo Horizonte não é favorável. A solidariedade prevalece.

A Virgem anunciou acontecimentos futuros?

Não, sua preocupação é que as pessoas tenham fé e confiança.

Você sofre, como outros videntes, ataques do demônio?

Um dia, em maio de 1994, eu estava para entrar na Basílica de Nossa Senhora de Lourdes. Na entrada, eu encontrei o meu confessor na época, santo sacerdote, o padre Narciso dos Santos. Ele tentou me dissuadir de entrar: “Vá trabalhar”. Ele tinha os olhos vermelhos. Continuava muito atencioso. Eu o deixei e entrei mesmo assim na basílica, e lá dentro, quem é que eu vejo? O meu confessor que me cumprimenta novamente! Era ele, e não tinha os olhos vermelhos. Não foi ele que havia tentado me dissuadir. Ele morreu há pouco tempo. Eu tenho, certamente, tentações de não fazer o trabalho pela Virgem ou as orações, ou sou assediado por maus pensamentos na hora de comungar. Preciso lutar.

Você me falou sobre a ligação com Fátima e Medjugorje. Você já fez peregrinações a esses lugares?

Passei em Medjugorje por acaso numa tarde de 1981, por ocasião de uma viagem à Itália, mas sem saber o que estava acontecendo lá nem encontrar os videntes. A ligação foi criada pela visita de Marija no dia 9 de fevereiro de 1993. Mas depois as pessoas começaram a dizer: “Ele copia Medjugorje”, porque as mensagens terminam de modo parecido: “Obrigada por ter atendido ao meu chamado”. Eu me queixei disso com a Virgem. Ela me respondeu: “Por que você quer que seja diferente? Deixe que o ataquem”. Há outra semelhança, porque a Virgem me convidou a jejuar na quarta e na sexta-feira. Um dia eu lhe perguntei se ela desejava que eu jejuasse. Ela respondeu: “O melhor jejum é o da língua (maledicência e tagarelice)”. Mas ela acrescentou: “Se você quiser jejuar na sexta-feira e até na quarta, tudo bem”.

A Virgem lhe faz censuras às vezes?

Frequentemente.

Quais censuras?

Dispersão na adoração ou na missa. Uma vez eu tinha vontade de dormir da hora do terço. Ela me disse: “Reze primeiro”. “Mas eu estou cansado”. “Eu também, estou cansada de vocês que não me ouvem”.

Quais são os frutos dessas aparições? Conversões, curas, proteções?

Nesses quatro anos e meio, todos aqueles que acolheram as mensagens alcançaram belas conversões. Muitas almas voltaram à Igreja, inclusive pessoas de seitas. A Virgem pede agora que nos dirijamos às pessoas com altas posições de poder e riqueza, para que elas se convertam também.

O arcebispo não é sensível a essas conversões?

Ele é muito educado, muito inteligente, bom administrador, mas tem outra orientação. Ele desejaria que eu desaparecesse. Ele pensa que eu minto ou que eu me aproveito das pessoas.

Você aceita doações?

Não, nada, e não tenho necessidade de nada. Os missionários recebem as doações para o Serviço de Informação Mariana, eu não.

Você viu o Cristo?

Uma vez, quando Ele me ensinou o Pai-Nosso da Esperança no dia 18 de setembro de 1993 na Igreja de Santo Antônio. Ele me disse que haveria um movimento renovador na Igreja. Mas não me deu detalhes.

Este movimento seria os Missionários do Coração Imaculado?

Não. Ele pediu somente para rezar o Pai-Nosso da Esperança (a oração formada pelo Pai-Nosso com os mistérios do Rosário).

O que você espera do futuro?

A Igreja deve voltar a ser o que era no início, sem manchas: Imaculada. Ele deve se ocupar do Evangelho e da oração antes que do social. Se o Evangelho não for vivido, isso criará muitos problemas na América Latina e no mundo inteiro.

 

PARA UM DISCERNIMENTO

“O que pensar de tudo isso?”, me perguntarão. Cabe a cada um discernir. As aparições são verificáveis apenas de maneira provável. Elas nunca constituem dogmas. Por outro lado, não pretendo usurpar o juízo do bispo local, que possui muitas reservas.

Como em toda aparição, pode-se perguntar sobre os detalhes e sobre as interpretações. Sobre dois santos que apareçam para lançar uma devoção nova ao Espírito Santo, por exemplo. Com certeza, o Brasil tem grande necessidade do Espírito Santo para o discernimento de tantas seitas que estão devorando o catolicismo, mas muitos se chocarão ao ver mobilizadas Santa Catarina Labouré e Santa Teresa do Menino Jesus.

lado, não pretendo usurpar o juízo do bispo local, que possui muitas reservas.

A Igreja teme a proliferação de aparições. A Congregação para a Doutrina da Fé estuda com razão os meios para remediar este problema. Mas na situação atual, em que há mais repulsas ou entusiasmos, igualmente cegos, do que discernimento, muitos procuram uma ajuda para discernir bem.

Eu publico as informações quando encontro sinceridade, coerência e nenhum erro patente. Este é o caso de Raymundo. Ele me faz pensar em Natanael, de quem Jesus dizia: “Eis um homem sem duplicidade” (Jo 1,47). Ele é tão despreocupado com o efeito de suas palavras que algumas de suas declarações muito sucintas me causaram suspeitas. Precisei de perguntas complementares para dissipá-las. Ainda não pude estudar as suas mensagens, na maior parte sem tradução. O que guardo comigo é a sua conversão profunda. Esse homem, que tinha uma vida honesta, fácil e agradável, entrou por uma via mais austera: oração profunda e dom de si mesmo4. Disso eu tive particular evidência durante as missas que celebrei para ele e seus amigos, testemunhas de uma fé popular profunda.

Sua modéstia, sua abertura de alma e sua serenidade na rude prova que é a doença de sua filha, tudo isso denota um abandono profundo à Providência. Seu confessor, que concelebrou comigo, me edificou. Os frutos são bons e parecem numerosos, mesmo que este apostolado de oração não encontre lugar nas pastorais de conjunto, mais centradas no social e no cultural. Isso pode causar problemas para os Missionários do Coração Imaculado. Mas esta é a situação em vários lugares de aparições, inclusive em Medjugorje, malgrado o reflexo eficaz sobre o terreno social deste famoso santuário.

Mais uma vez, as informações que recolho sobre as aparições apresentam fatos, oferecem indícios para o discernimento.

Mas cada um permanece juiz, com todo respeito e submissão às autoridades constituídas.

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