Grécia, Turquia e Roma

Raymundo viaja à Grécia, à Turquia e à Itália na companhia da irmã Gertrudes. Tem o privilégio de passar o aniversário dos seus sessenta e nove anos na casinha onde Nossa Senhora passou os últimos dias de sua vida, em Éfeso. “Este é o meu presente”.

15 a 30 de abril de 2010

Todas as vezes que a irmã Gertrudes insiste para que eu a acompanhe numa das suas viagens, o meu primeiro argumento, e aliás o único, é que não tenho a mínima possibilidade financeira para esse tipo de divertimento. E passo a colocar uma grande barreira no sentido de que ela desista de pedir a minha companhia.

Desta vez foi uma viagem à Grécia, à Turquia, passando em Éfeso, e terminando em Roma. A priori, isso seria uma empreitada impossível para mim, mas ela tanto fez que conseguiu reunir de vários missionários o valor para financiar a minha ida. A minha primeira surpresa foi que o dia 21 de abril, data em que eu estaria completando sessenta e nove anos, eu iria passar em Éfeso, na casinha onde Nossa Senhora viveu seus últimos dias na Terra.

Éfeso – “Este é o meu presente”.

Quando lá chegamos, vi, à porta da casinha, os meus três amigos, os meus queridos companheiros me esperando. Eles dançavam uma música muito melodiosa, tendo nas mãos uma espécie de tambor pequeno, com um cabinho e duas bolinhas amarradas por um barbante. Quando vibrados, eles produziam um som característico, com uma cadência muito forte. Eles dançaram à minha volta, rindo e levantando as perninhas, sempre ao som dos pequenos tambores que tinham as cores amarela, vermelha e azul.

Eu passei por eles, mas eles me acompanhavam, sempre rindo, brincando e dançando, até o interior da casinha de Maria Santíssima. Lá dentro, em cima do altar, vi um vulto branco, com muita luz, e senti logo tratar-se de Nossa Senhora. Eu fiquei meio perdido, porque não sabia se prestava atenção à dança dos meninos ou à visão que estava tendo.

Quando consegui me concentrar, vi com nitidez o contorno de uma linda mulher, que percebi ser Maria, a Mãe de Jesus. Ela me disse, depois de um breve instante:

– Este é o meu presente – e sumiu juntamente com os meninos.

Neste momento, notei que tinha desprendido da parede da casinha um pequeno pedaço de pedra, que veio cair no meu pé. Eu o apanhei e guardei sem falar nada.

Procurei disfarçar o máximo, devido ao acúmulo de pessoas de várias nacionalidades que começavam a entrar, e mesmo do grupo que me acompanhava, porque já me acostumei a essas visões e percebi que tudo aquilo, inclusive a pedrinha, era um presente do Céu para mim. Reconheci com clareza tratar-se de um presente de Nossa Senhora para aquela ocasião, e agradeci mentalmente a Deus por permitir que sua Mãe Santíssima viesse do Céu para me contemplar com a sua presença e com aquele presente. Ela convidou-me a passar o aniversário dos meus sessenta e nove anos em sua casa. Serviu-se da minha querida irmã Gertrudes e de todos os missionários que me ajudaram como instrumento para que isso acontecesse.

 

Comentário de Raymundo:

Esta foi uma viagem de fé, porque pude observar como Maria, a Mãe de Jesus, é reverenciada e respeitada na Turquia e na Grécia. Tive a oportunidade de participar de duas cerimônias ortodoxas, que nos lembram as Missas católicas, e pude notar com clareza que todos os participantes, antes de mais nada, reverenciam a Mãe de Jesus com uma expressão inglesa – Jesus mother – e outra em turco, que não sei expressar.

Pude observar também que o ponto central é sempre a Mãe de Jesus, e que a Missa, se existe, é consequência da maternidade divina.

Lembrei-me que minha devoção a Maria, considerada exagerada e lógica aqui no Brasil, declarando sempre que Ela não é nem de longe o que as pessoas expressam, por lhe atribuírem uma figura feminina completamente absorta em interesses mundanos, cotidianos e comuns, que pede para construir igrejas e solicita peregrinações a santuários que Ela mesma sabe que mais tarde se transformarão em centros de comércio. Estas atitudes não podem de forma alguma corresponder à Imaculada que desce do Céu.

Observei também que não existe comércio nos locais ortodoxos, que esse comércio de velas, santinhos e outras bugigangas que facilmente encontramos em Lourdes, Fátima, Aparecida etc. não é encontrado onde com sinceridade se reverencia Maria.

A casinha onde viveu a Mãe de Jesus é de uma simplicidade espantosa. Nela não são permitidas conversas, tirar fotos, roupas impróprias etc.

Maria é Maria, a Mãe de Jesus. Ela se faz presente no coração dos turcos e gregos. E cheguei a me envergonhar ao me lembrar das pessoas usando o seu santo nome para custear empreendimentos faraônicos.

Senti que se fosse no Brasil já teriam construído uma imensa basílica em torno da rude casinha, um shopping, hotel etc., para atender peregrinos. Senti que estou no caminho certo em defender o nome de Maria, colocando-a como uma mulher sábia, que sabe o que deseja, que conhece por vivência o Evangelho de seu Filho, que não se encontra nessas visões interesseiras, cujo intuito é tão somente comercializar a fé.

Lembrei-me que quando perguntei a Nossa Senhora se ela desejava que eu pedisse a construção de uma igreja, Ela respondeu-me que não, e que procurássemos encher as que estão vazias. Quando tentei fazer uma imagem que a retratasse como a vejo, fui surpreendido com uma frase: “Mirem-se em mim e vejam Jesus”. Tentei com imagens de Nossa Senhora Aparecida, Fátima etc., mas nada deu certo, porque comigo Ela desejava ser Ela mesma. Se levo a imagem de Nossa Senhora de Lourdes à Basílica, foi com sua aquiescência, dizendo que com isso eu estaria abrindo caminho ao comum.

 

Referência: LOPES, Raymundo. Grécia, Turquia e Roma. In: LEMBI, Francisco. Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 133-135.